sábado, 17 de março de 2012







A vontade de aparecer

* Por Rosana Hermann

Na década de sessenta, quando uma pessoa demonstrava uma felicidade exacerbada ao ser o centro das atenções, dizia-se que esta criatura era ‘aparecida’. Nesta época, a recomendação vigente para realizar o desejo de ser notado pelo público era a de usar uma melancia no pescoço.

De lá para cá, a mídia foi ganhando espaço e o Brasil tornou-se o país do futebol, do carnaval e da vontade de aparecer na televisão. O papagaio de pirata evoluiu e o brasileiro ávido por promoção saiu do armário, assumiu sua condição ao escrever cartazes de ‘filma eu, Galvão’.

Porém, como a televisão só comporta algumas unidades de emissoras abertas e algumas dezenas de canais a cabo, o jeito foi recorrer à infinita web, onde cabem todos os egos sedentos de sucesso com a velocidade que a ansiedade pela fama exige. E do sucesso de ocupação nacional no fotolog, invadimos o Orkut e hoje, já reinamos no YouTube, o site que mais cresce junto com nosso ego, a televisão nossa de cada dia.

O YouTube tem tudo para ser o paraíso brazuca no trio de dabliús da rede. A assinatura é simples: ‘broadcast yourself’, que poderia ser traduzido livremente como ‘transmita-se’, ou talvez, ‘televisione-se’. A plataforma é simples, basta abrir uma conta e subir seus vídeos, que podem ser capturados da tv, gravados com uma câmera portátil, webcam ou até a câmera do celular. Sobe tudo.

O site gasta mais de um milhão de dólares por mês com banda, mas é problema deles. Nós, só queremos a parte da divulgação, da projeção. Nós, só queremos mostrar nossa cara, nossas piadas, nossas gracinhas. De repente, somos todos crianças no palco da escola de primeiro grau declamando versinhos no dia da árvore. Para uma platéia infinita, com versinhos que ficam arquivados.

Hoje, já nem tentamos mais disfarçar. Já dominamos os meios de produção e de divulgação, ninguém mais nos deterá. Seremos todos produtores, atores e consumidores de nós mesmos. Todos podemos ser famosos internacionalmente pelo máximo de tempo possível, como sempre sonhamos. E, convenhamos, só um gringo abestalhado como aquele Warhol acreditaria que quinze minutos nos bastariam. Brasileiro gosta mesmo é de aparecer.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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