quarta-feira, 28 de março de 2012







Como carregar o país nas costas

* Por Mara Narciso


Alguém haverá de suprir o país com tributos que manterão os serviços básicos como educação gratuita, assistência a saúde, segurança, habitação popular, saneamento básico, bolsa família, salário desemprego, manutenção da máquina pública e outros anexos obrigatórios. Quanto mais o país se desenvolve, maiores serão as necessidades do seu povo, com o bem-estar social atingindo um custo altíssimo. Isso, deixando de fora o preço astronômico da corrupção nossa de todos os dias. O cidadão estupefato vê gastar dinheiro que daria para erguer três escolas e o que temos? Depois de anos de espera, uma escolinha ordinária, com material de quinta categoria. Pagamos alto sim, e é urgente reclamar.
Os nossos impostos são os mais caros do mundo. De cada 100 reais recebidos, 27,5 ficam com o Leão. E nessa época de acerto com o fisco ficamos irados com a corrupção, pois nela vai o nosso sangue. Passamos a vida inteira pagando o que nos tiram, abusivamente, e para quê? Para manter mordomias a quem não merece. São vampiros que nos espoliam, sugando nosso sangue sem os incomodarmos.
Passamos a vida produzindo riqueza e pagando impostos tão abusivos que muitos se veem impedidos de fazer um pé-de-meia. Quem sempre pagou por tudo e nunca teve nada de graça, nem escola, nem saúde, nem nada gratuito, paga para si e para os outros, e pode não conseguir fazer reserva. Enquanto produz, vai pagando, e quanto mais se produz, mais se paga, o que é uma burrice e tanto. Trabalhando de forma desumana, não tem tempo de fazer nada, além de trabalhar e exercer o papel de contribuinte.
Até quando? É chegado o dia triste, a ocasião da aposentadoria, e, o agora segurado do INSS, mesmo tendo pagado sobre o teto máximo por três dezenas e mais de anos, recebe seu benefício, uma merreca, bem inferior ao que ganhava na ativa. Em pouco tempo estará recebendo o salário mínimo, ou quase isso.
Como não há mais renda (em tese, seria a sobra após pagar todas as contas de uma existência espartana), não lhe serão cobrados mais impostos. Não tem de onde, embora salários maiores continuem a ter seus descontos. Então, quem pagou as contas do país por décadas, ficará na penúria. Não conseguirá dar manutenção em sua casa. O carro se acabará na garagem. Não poderá pagar TV a cabo, internet banda larga, empregada, e muito menos um cuidador, quando adoecer. Comerá mal. A sua realidade de classe média, o eterno e preferencial contribuinte, aquele que não sonega, cai na escala social. Isso é justo?
Nos tempos de sua produção, gasta seu excedente pagando impostos e mantendo os gastos inesgotáveis dos governantes. Quando velho, exausto e doente, precisará recorrer à caridade de familiares para sobreviver. Daí, não haverá como o Governo retirar coisa alguma. Pobre Governo. Perdeu uma fonte de renda. Mais pobre ainda, ex-contribuinte, só lhe restará a saudade. E ainda terá de lidar com gente que acha injusto ela ter ganhado um pouco mais em outros tempos, ainda que, pagando muito por isso.
Alguma coisa errada acontece com esse sistema, em relação ao profissional liberal. Acostumado a trabalhar em regime apertado, com poucos períodos de férias plenas, devido ao custo, por não ter patrão, nem décimo terceiro, nem fundo de garantia, certas particularidades de sua vida podem tê-lo impedido de fazer uma previdência privada. O que fazer agora?
Como a vida acontece sem previsibilidade, pode-se pensar sobre o azar que teve essa pessoa. Há um porém, ela não foi imprevidente e, ainda assim, ficará ao deus-dará. Quem a acudirá? O governo com seus serviços de asilo?
Quanto contrasenso! Maldita injustiça! Durante seu tempo útil serviu ao país, e na velhice amargará uma vida de privações.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-

6 comentários:

  1. O retrato que você nos oferece em seu texto é catastrófico, mas espelha fielmente a realidade. É revoltante, é injusto, é cruel. E não há o que fazer, a quem reclamar... países ricos também tributam fortemente, mas há contrapartida. Há seguridade social, há aposentadoria digna. E aqui? O Brasil "bola da vez" e "queridinho dos investidores" é padrasto para os coiós pagadores de impostos. Excelente e lúcido manifesto, Mara. Parabéns.

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  2. Marcelo, protesto em nome do meu pai, falecido há dois anos e que teve aposentadoria e velhice miseráveis, e pagou sobre o teto durante muitos anos. Estou no mesmo caminho. E o que faço? Escrevo sobre essa disparidade. Obrigada pela força.

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  3. Nessas minhas idas e vindas em corredores de hospital e cadeiras do INPS, tenho visto o pobre do contribuinte
    praticamente mendigar pelos seus direitos e ainda agradecer efusivamente quando lhe é concedido uma pequena parte
    dele, não é só injusto Mara, é desumano.
    Abraços

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    1. Núbia,
      São muitas coisas erradas, mas já foi pior. Precisamos mostrar indignação, protestar e pedir mudanças urgentes. Assim poderá melhorar.
      Obrigada pelo comentário sensível e sensato.

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  4. Precisei utilizar recentemente os serviços de saúde pública e fiquei horrorizada com a qualidade do hospital que prestou atendimento. Num momento desses, a gente se sente usurpada! Aqui em Goiás, a credibilidade daquele considerado nosso melhor representante no Senado, caiu por terra com as denúncias do caso "Carlinhos Cachoeira". Fico pensando: Haverá limites?
    Abraços Mara.

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    1. Verdade, Marleuza. O Jornal O Globo denunciou no último fim-de-semana um pedido de 3 mil pelo senador Demóstenes Torres, a Carlos Cachoeira, o corrupto preso em Mossoró,Rn. Hoje, nas conversas gravadas num celular estrangeiro, usado num claro desejo de escapar das escutas e da lei, o montante é de 3 milhões. Somos mesmo uns otários.

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