

Seja gentil e rebobine
* Por Fernando Yanmar Narciso
* Por Fernando Yanmar Narciso
Hoje você esbarra na praça com um vendedor suspeito que lhe oferece 5 DVDs piratas por R$10,00, ou 10 por 5, dependendo da qualidade da gravação. Quase todos são filmes que chegaram à matinê semana passada, com a imagem borrada da câmera de celular e som de gente comendo pipoca. Qualquer Zé com um pouco mais de bom senso pode sentar a bunda gorda na frente do computador e baixar de graça o filme em cartaz, em vez de comprar, aumentando o “coeficiente de descartabilidade” da obra.
E pensar que, há pouco menos de 30 anos, filme era uma coisa tão especial... Tanto que a única saída de quem havia perdido os blockbusters nos cinemas era esperar que estreassem na Globo. O que às vezes era uma fria, pois alguns deles levavam até 10 anos para terem os direitos comprados pela emissora, como Mad Max 2, de 1981, que muita gente só viu pela 1ª vez em 1992!
Mas os tempos vinham mudando. Em 1983, quando meus pais ouviram sobre o videocassete pela primeira vez, foi como se tivessem visto o cometa Halley a um palmo de distância. Após alguns anos, enfim compramos o nosso. Pelo modelo ter sido um dos primeiros na cidade, vinha contrabandeado- de onde mais?- do Paraguai e custava tão caro como um Fusca seminovo. Agora já não precisávamos mais ficar acordados esperando o Corujão, o Super Sono, o Dormindo Maior ou a Sessão das Dez que começava perto de meia-noite e meia. Era só deixar programado pra gravar Clark Gable e Vivien Leigh e assistir no dia seguinte. Não precisávamos mais matar aula de manhã pra ver Bozo, Xuxa ou Changeman no boteco da esquina, nem ficar com sono pra assistir os Gols do Fantástico. Estávamos livres do monopólio televisivo das horas proibidas!
Com o advento do videocassete, logo vieram os videoclubes, que mais tarde foram chamados de videolocadoras. Aparecia uma em cada esquina e viviam lotadas. No início ainda eram muito rudimentares, e algumas até alugavam filmes gravados da TV, faltando pedaços, com comerciais e o plim-plim da Globo, mas rapidamente se profissionalizaram.
Eu AMAVA fuçar as videolocadoras de minha cidade, algumas fitas – principalmente de desenhos animados e heróis – eu assistia até as imagens desbotarem. As vinhetas das distribuidoras eram sempre assustadoras com sua computação gráfica pioneira, narração quase robótica e música de fundo grudenta. Os filmes podiam ser verdadeiras bombas, mas as vinhetas faziam parecer que todos concorriam ao Oscar. A saudosa América Vídeo Filmes que o diga... Era um momento mágico ver meus pais chegarem em casa na sexta-feira com sacolas de fitas de vídeo, pois nosso bairro era longe de tudo, quase no meio do mato. Tão longe que entrar numa locadora era como um beduíno achando um oásis no deserto.
Lembro-me de praticamente todas as lojas da cidade como se tivessem acabado de inaugurar. A primeira locadora da cidade foi a Art Vídeo, que ficava no andar de cima da saudosíssima Padaria Del Rey, onde agora é a San Jorge Jeans.
Essa foi a culpada de minha fobia do Fofão. No dia que minha mãe alugou uma fita dele e eu olhei pra cara daquela coisa na capa, corri pra debaixo da cama. Um ano depois ela se mudou para detrás do Vip´s Cabelereiros, mas nunca mais foi a mesma coisa.
A que mais visitávamos era a Vídeo Show – não pagaram nenhum royalty à Venus Platinada... – que ficava de frente para a lanchonete Comilão. A Uai Vídeo, que era da mesma empresa da anterior, ficava ao lado de onde hoje é o Jac´s.
Mais tarde surgiu a Universal Vídeo, que ficava ao lado de onde hoje é a sorveteria Doçura no centro, mas que em 94 foi para mais perto do nosso antigo bairro. Foi a melhor locadora de todas!
Mas o negócio era bastante concorrido. Teve o caso da Estoril Vídeo que mudou de ponto três vezes num curto período de tempo, os três no mesmo quarteirão!
Foram de fato tempos mágicos. Aprender a decifrar o manual e a operar um VCR era mais difícil que conseguir um diploma em Oxford. Com o controle remoto na mão nos sentíamos reis, mas com o advento do DVD e a chegada do cinema à era digital acabaram com todo o encanto de sentar-se com a família no sofá e acelerar, parar, pausar, rebobinar, colocar em câmera lenta... E principalmente gravar da TV.
• Designer e colunista do Literário.
E pensar que, há pouco menos de 30 anos, filme era uma coisa tão especial... Tanto que a única saída de quem havia perdido os blockbusters nos cinemas era esperar que estreassem na Globo. O que às vezes era uma fria, pois alguns deles levavam até 10 anos para terem os direitos comprados pela emissora, como Mad Max 2, de 1981, que muita gente só viu pela 1ª vez em 1992!
Mas os tempos vinham mudando. Em 1983, quando meus pais ouviram sobre o videocassete pela primeira vez, foi como se tivessem visto o cometa Halley a um palmo de distância. Após alguns anos, enfim compramos o nosso. Pelo modelo ter sido um dos primeiros na cidade, vinha contrabandeado- de onde mais?- do Paraguai e custava tão caro como um Fusca seminovo. Agora já não precisávamos mais ficar acordados esperando o Corujão, o Super Sono, o Dormindo Maior ou a Sessão das Dez que começava perto de meia-noite e meia. Era só deixar programado pra gravar Clark Gable e Vivien Leigh e assistir no dia seguinte. Não precisávamos mais matar aula de manhã pra ver Bozo, Xuxa ou Changeman no boteco da esquina, nem ficar com sono pra assistir os Gols do Fantástico. Estávamos livres do monopólio televisivo das horas proibidas!
Com o advento do videocassete, logo vieram os videoclubes, que mais tarde foram chamados de videolocadoras. Aparecia uma em cada esquina e viviam lotadas. No início ainda eram muito rudimentares, e algumas até alugavam filmes gravados da TV, faltando pedaços, com comerciais e o plim-plim da Globo, mas rapidamente se profissionalizaram.
Eu AMAVA fuçar as videolocadoras de minha cidade, algumas fitas – principalmente de desenhos animados e heróis – eu assistia até as imagens desbotarem. As vinhetas das distribuidoras eram sempre assustadoras com sua computação gráfica pioneira, narração quase robótica e música de fundo grudenta. Os filmes podiam ser verdadeiras bombas, mas as vinhetas faziam parecer que todos concorriam ao Oscar. A saudosa América Vídeo Filmes que o diga... Era um momento mágico ver meus pais chegarem em casa na sexta-feira com sacolas de fitas de vídeo, pois nosso bairro era longe de tudo, quase no meio do mato. Tão longe que entrar numa locadora era como um beduíno achando um oásis no deserto.
Lembro-me de praticamente todas as lojas da cidade como se tivessem acabado de inaugurar. A primeira locadora da cidade foi a Art Vídeo, que ficava no andar de cima da saudosíssima Padaria Del Rey, onde agora é a San Jorge Jeans.
Essa foi a culpada de minha fobia do Fofão. No dia que minha mãe alugou uma fita dele e eu olhei pra cara daquela coisa na capa, corri pra debaixo da cama. Um ano depois ela se mudou para detrás do Vip´s Cabelereiros, mas nunca mais foi a mesma coisa.
A que mais visitávamos era a Vídeo Show – não pagaram nenhum royalty à Venus Platinada... – que ficava de frente para a lanchonete Comilão. A Uai Vídeo, que era da mesma empresa da anterior, ficava ao lado de onde hoje é o Jac´s.
Mais tarde surgiu a Universal Vídeo, que ficava ao lado de onde hoje é a sorveteria Doçura no centro, mas que em 94 foi para mais perto do nosso antigo bairro. Foi a melhor locadora de todas!
Mas o negócio era bastante concorrido. Teve o caso da Estoril Vídeo que mudou de ponto três vezes num curto período de tempo, os três no mesmo quarteirão!
Foram de fato tempos mágicos. Aprender a decifrar o manual e a operar um VCR era mais difícil que conseguir um diploma em Oxford. Com o controle remoto na mão nos sentíamos reis, mas com o advento do DVD e a chegada do cinema à era digital acabaram com todo o encanto de sentar-se com a família no sofá e acelerar, parar, pausar, rebobinar, colocar em câmera lenta... E principalmente gravar da TV.
• Designer e colunista do Literário.
Eu também adorava o videocassete. Você já nasceu saudosista e nostágico. Não sei de quem você puxou isso.
ResponderExcluirGostei dessa sessão.