sexta-feira, 11 de junho de 2010




A menina morta

* Por Alexandre Bonafim

a Cornélio Pena

De sua fotografia
a menina morta
me sorri.
Quem lhe pousou
entre os cabelos
aquela flor
de assombro?
Quem lhe maquiou
as fazes
com aquela cor
de espanto?
A menina morta
me sorri
do fundo
de um poço
da lonjura
da eternidade.
Nas suas pálpebras
de sonho
na sua testa
de sombra
reluz o mistério
da morte
a invisível tez
do silêncio.
A menina morta
canta
com a boca
amordaçada.
Ela brinca de ciranda
com a sombra das árvores
ela pula amarelinha
com a solidão das pedras.
A menina morta
só sabe abraçar
o calor do mármore
ela só sabe conversar
com o eco dos granitos.
Ninguém nota
na parede
seu rosto de névoa
sua expressão de gelo.
Há teias de esquecimento
em seus ombros.
Há poeira de memória
em seus cílios.
De sua fotografia
a menina morta
me sorri.
Com a calma
dos séculos
ela aguarda
a chegada
de todos
os silêncios.


* Poeta, contista, cronista, crítico literário, professor e mestre em Literatura. Autor do livro “Biografia do deserto”.

Um comentário:

  1. Ai que tristeza pungente! Belo poema!
    Reparo: A palavra "face" foi grafada erradamente.

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