

Casamento e amor
* Por Fábio de Lima
Enquanto escrevo este texto, confesso estar tomado por grande ansiedade. Hoje vou a um casamento e casamento me deixa ansioso, para não dizer nervoso. Nunca me casei e não sei como será quando decidir fazê-lo. Mandar um representante ao altar e ficar assistindo tudo no fundo da igreja não será possível. E se fosse, correria o risco do representante também querer tomar o meu lugar na hora da lua-de-mel. Isso não seria um bom negócio! Portanto, não haverá jeito, terei que, um dia, comparecer ao meu casamento. Enquanto esse dia não chega, vou treinando ao comparecer em todos os casamentos de amigos e parentes.
Costumo ficar muito preocupado alguns dias antes da cerimônia. No dia, chego suado à igreja, com as pernas trêmulas, me emociono quando a noiva caminha em direção ao altar, choro compulsivamente quando o padre declara o casal marido e mulher (“Telma eu não sou gay...!”) e, por fim, dou um sorriso irônico ao felicitar o casal e dizer: sejam felizes! Não faço isso por maldade, mas por dó mesmo! Afinal, casar e ser feliz são desejos antagônicos para muita gente. Mas voltando a falar sobre o casamento de hoje, quem se casa é o irmão de minha namorada. Eu sei que alguns leitores dirão que, sendo assim, quem se casa é o meu cunhado. Rechaço essa afirmação. Penso que as palavras cunhado, genro, sogra, nora e sogro só devem ser usadas depois do casamento. Sendo assim, quem se casa é o irmão de minha namorada e ponto final.
Acredito que toda essa minha preocupação, ansiedade e nervosismo têm a ver com o charme da cerimônia na igreja. A liturgia da igreja católica é muito antiga e bela. A tradição do casamento na igreja vem do século XI. Tudo bem que naquela época casamento e amor eram coisas diferentes. Os casamentos ocorriam por conveniência e o fato da mulher gostar do homem ou o homem gostar da mulher quem decidia eram os pais do casal. Hoje muita coisa mudou e os casamentos ocorrem por causa do amor...! Bem, talvez minha análise seja simplista, ingênua e explicitamente de alguém que nunca se casou, mas é assim que penso.
Separei a roupa que vestirei hoje, desde a semana retrasada. Irei com um sapato preto, cinto preto e camisa preta. Calma, leitor! Antes de qualquer piadinha, não estou de luto. Vestirei também um terno bege escuro e colocarei uma gravata dourada. Acho que será um bom contraste de cores. Quero estar elegante, afinal toda a família da minha namorada estará na igreja e quero impressionar. Acho que esse casamento é diferente dos outros que costumo ir. Hoje, por razões óbvias, estarei sendo tão observado pelos pais do noivo quanto o próprio noivo.
Mas voltando a falar sobre amor, lembro agora de um livro que li recentemente chamado Por que nos apaixonamos (Como a ciência explica os mistérios do amor). O livro é ruim demais! Ele foi escrito por uma neurocientista francesa chamada Lucy Vincent. Fico feliz de saber, pela orelha do livro, que ela já é casada. Porque se essa escritora dependesse de suas teorias para conseguir um grande amor estaria fadada a morrer na solidão. Sou preconceituoso com teóricos do amor. Admito! Ora, se nem os poetas souberam explicar o que é o amor – os cientistas explicarão? Não creio!
Aliás, estava aqui pensando, enquanto faço o nó da gravata e digito essas palavras no computador, que os padres costumam dizer que casamento é para a vida toda – muitas pessoas dizem que amor de verdade também é para a vida toda, mas a todo o momento um casamento se desfaz e uma relação de amor é rompida, isso em qualquer lugar do mundo, seja na rua da minha casa ou numa ilha da África. Refletindo sobre essas coisas fico imaginando se eu não deveria escrever um livro sobre casamento e amor. Daria um nome parecido com o que a tal cientista francesa deu para sua obra chata. O meu livro se chamaria Por que casamento e amor são fatores temporais (Como a ciência explica o começo do fim)! Assim como a colega francesa, não sei se chegaria a alguma conclusão em minha obra, mas talvez ganhasse um dinheirinho para pagar parte das despesas do meu futuro casamento. Ontem à noite minha namorada estava dizendo que seu irmão tem gastado um dinheirão com os preparativos do casório! Bem, enquanto não escrevo o livro, nem me caso, recordo trecho do poema Soneto de fidelidade, de Vinicius de Moraes:
“E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
*Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
* Por Fábio de Lima
Enquanto escrevo este texto, confesso estar tomado por grande ansiedade. Hoje vou a um casamento e casamento me deixa ansioso, para não dizer nervoso. Nunca me casei e não sei como será quando decidir fazê-lo. Mandar um representante ao altar e ficar assistindo tudo no fundo da igreja não será possível. E se fosse, correria o risco do representante também querer tomar o meu lugar na hora da lua-de-mel. Isso não seria um bom negócio! Portanto, não haverá jeito, terei que, um dia, comparecer ao meu casamento. Enquanto esse dia não chega, vou treinando ao comparecer em todos os casamentos de amigos e parentes.
Costumo ficar muito preocupado alguns dias antes da cerimônia. No dia, chego suado à igreja, com as pernas trêmulas, me emociono quando a noiva caminha em direção ao altar, choro compulsivamente quando o padre declara o casal marido e mulher (“Telma eu não sou gay...!”) e, por fim, dou um sorriso irônico ao felicitar o casal e dizer: sejam felizes! Não faço isso por maldade, mas por dó mesmo! Afinal, casar e ser feliz são desejos antagônicos para muita gente. Mas voltando a falar sobre o casamento de hoje, quem se casa é o irmão de minha namorada. Eu sei que alguns leitores dirão que, sendo assim, quem se casa é o meu cunhado. Rechaço essa afirmação. Penso que as palavras cunhado, genro, sogra, nora e sogro só devem ser usadas depois do casamento. Sendo assim, quem se casa é o irmão de minha namorada e ponto final.
Acredito que toda essa minha preocupação, ansiedade e nervosismo têm a ver com o charme da cerimônia na igreja. A liturgia da igreja católica é muito antiga e bela. A tradição do casamento na igreja vem do século XI. Tudo bem que naquela época casamento e amor eram coisas diferentes. Os casamentos ocorriam por conveniência e o fato da mulher gostar do homem ou o homem gostar da mulher quem decidia eram os pais do casal. Hoje muita coisa mudou e os casamentos ocorrem por causa do amor...! Bem, talvez minha análise seja simplista, ingênua e explicitamente de alguém que nunca se casou, mas é assim que penso.
Separei a roupa que vestirei hoje, desde a semana retrasada. Irei com um sapato preto, cinto preto e camisa preta. Calma, leitor! Antes de qualquer piadinha, não estou de luto. Vestirei também um terno bege escuro e colocarei uma gravata dourada. Acho que será um bom contraste de cores. Quero estar elegante, afinal toda a família da minha namorada estará na igreja e quero impressionar. Acho que esse casamento é diferente dos outros que costumo ir. Hoje, por razões óbvias, estarei sendo tão observado pelos pais do noivo quanto o próprio noivo.
Mas voltando a falar sobre amor, lembro agora de um livro que li recentemente chamado Por que nos apaixonamos (Como a ciência explica os mistérios do amor). O livro é ruim demais! Ele foi escrito por uma neurocientista francesa chamada Lucy Vincent. Fico feliz de saber, pela orelha do livro, que ela já é casada. Porque se essa escritora dependesse de suas teorias para conseguir um grande amor estaria fadada a morrer na solidão. Sou preconceituoso com teóricos do amor. Admito! Ora, se nem os poetas souberam explicar o que é o amor – os cientistas explicarão? Não creio!
Aliás, estava aqui pensando, enquanto faço o nó da gravata e digito essas palavras no computador, que os padres costumam dizer que casamento é para a vida toda – muitas pessoas dizem que amor de verdade também é para a vida toda, mas a todo o momento um casamento se desfaz e uma relação de amor é rompida, isso em qualquer lugar do mundo, seja na rua da minha casa ou numa ilha da África. Refletindo sobre essas coisas fico imaginando se eu não deveria escrever um livro sobre casamento e amor. Daria um nome parecido com o que a tal cientista francesa deu para sua obra chata. O meu livro se chamaria Por que casamento e amor são fatores temporais (Como a ciência explica o começo do fim)! Assim como a colega francesa, não sei se chegaria a alguma conclusão em minha obra, mas talvez ganhasse um dinheirinho para pagar parte das despesas do meu futuro casamento. Ontem à noite minha namorada estava dizendo que seu irmão tem gastado um dinheirão com os preparativos do casório! Bem, enquanto não escrevo o livro, nem me caso, recordo trecho do poema Soneto de fidelidade, de Vinicius de Moraes:
“E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
*Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
Pena não ter lido mais textos do Fábio.
ResponderExcluirUma narrativa divertida de algo que hoje
em dia eu só assisto se for de pessoa muito
chegada, não tenho mais paciência.
Ótimo texto.
Fábio Lima, um eterno apaixonado pelo amor. Volta!
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