sábado, 12 de junho de 2010


Amar em aparelhos

* Por Alex Polari de Alverga

Era uma coisa louca
trepar naquele quarto
com a cama. suspensa
por quatro latas
com o fino lençol
todo ele impresso
pelo valor de teu corpo
e a tinta do mimeógrafo.

Era uma loucura
se- despedir da coberta
ainda escuro
fazer o café
e a descoberta
de te amar
apesar dos pernilongos
e a consciência
de que a mentira
tem pernas curtas.

Não era fácil
fazer o amor
entre tantas metralhadoras
panfletos, bombas
apreensões fatais
e os cinzeiros abarrotados
eternamente com o teu Continental,
preferência nacional.

Era tão irracional
gemer de prazer
nas vésperas de nossos crimes
contra a segurança nacional
era duro rimar orgasmo
com guerrilha
e esperar um tiro
na próxima esquina.

Era difícil
jurar amor eterno
estando com a cabeça
à prêmio
pois a vida podia terminar
antes do amor.


• Poeta de João Pessoa (PB), autor dos livros de poesias “Inventário de cicatrizes” e “Camarim de prisioneiro” e do romance “A quadratura do ó”.

2 comentários:

  1. Amores intensos vividos
    com o ardor de quem não
    pode contar com o amanhã.
    Parabéns!
    Abraços

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  2. Apenas a impulsividade e coragem da juventude para suplantar com desejo o medo da queda do aparelho. Tempo em que é melhor esquecer, no entanto gera bonitos poemas.

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