segunda-feira, 7 de abril de 2014

Policarpo Quaresma

* Por Vitor Orlando Gagliardo

Nessa última semana terminei a leitura de Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Considerado uma obra prima da literatura nacional, esse folhetim publicado em 1911 (em livro, 1915), narra a história de Quaresma, um funcionário público que acima de sua própria vida, amava a pátria. 

O mais interessante foi constatar que essa obra publicada no início do século passado está mais presente do que nunca no nosso cotidiano. Não pelo ufanismo, mas sim, pela capacidade visionária do autor e por fim, pela desilusão com a pátria do personagem.

O patriotismo de Quaresma era visto com deboche pelas pessoas ao seu redor. Todos os ridicularizavam. Em uma ação ingênua propôs ao Congresso Nacional a substituição da língua portuguesa pelo tupi-guarani. Nosso herói chegou ao cúmulo de ser internado em um hospício. 

Sem nenhuma aspiração política, Policarpo, que foi funcionário público, proprietário rural e soldado voluntário da Revolução Armada em 1893, tinha apenas um sonho: assistir o Brasil sendo valorizado pelos brasileiros.

Considerava as terras brasileiras mais produtivas do mundo. Investiu todo seu dinheiro na área rural. Seu entusiasmo foi por água abaixo quando foi vítima de jogo político ostentado pelo coronelismo.

Um assunto bem atual abordado por Lima Barreto é a Reforma Agrária. Policarpo se questiona: por que há tantos latifúndios abandonados nesse país? Por que as terras estão abandonadas à improdutividade se há uma enorme miséria na população rural? Não o bastante, em certa altura, Policarpo questiona: “Como era possível fazer prosperar a agricultura, com tantas barreiras e impostos? Se ao monopólio dos atravessadores do Rio se juntavam as exações do Estado, como era possível retirar da terra a remuneração consoladora?”

Um outro ponto abordado no livro é a caracterização dos políticos. “Os governos, com seus inevitáveis processos de violência e hipocrisias, ficam alheados da simpatia dos que acreditam nele; e demais, esquecidos de sua vital impotência e inutilidade, levam a prometer o que não podem fazer, de forma a criar desesperados, que pedem sempre mudanças e mudanças”.   

A palavra chave do texto de Lima Barreto é patriotismo. A segunda mais importante é decepção. Quaresma, preso e exilado, faz uma análise de sua vida e chega à conclusão de que sua luta foi uma perda de tempo. Os políticos corruptos venceram a guerra.

Ao terminar o livro, liguei a televisão e ainda tomado pela história de Policarpo Quaresma, senti a mesma desilusão ao me deparar com inúmeros casos de corrupção e abuso de poder praticado na política brasileira.

A pergunta que não quer calar é: até quando o Brasil vai ser o país do futuro? 

* Jornalista


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