Policarpo Quaresma
* Por
Vitor Orlando Gagliardo
Nessa última semana
terminei a leitura de Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Considerado uma obra prima da literatura nacional, esse folhetim publicado em
1911 (em livro, 1915), narra a história de Quaresma, um funcionário público que
acima de sua própria vida, amava a pátria.
O mais interessante foi
constatar que essa obra publicada no início do século passado está mais
presente do que nunca no nosso cotidiano. Não pelo ufanismo, mas sim, pela
capacidade visionária do autor e por fim, pela desilusão com a pátria do
personagem.
O patriotismo de
Quaresma era visto com deboche pelas pessoas ao seu redor. Todos os
ridicularizavam. Em uma ação ingênua propôs ao Congresso Nacional a
substituição da língua portuguesa pelo tupi-guarani. Nosso herói chegou ao
cúmulo de ser internado em um hospício.
Sem nenhuma aspiração
política, Policarpo, que foi funcionário público, proprietário rural e soldado
voluntário da Revolução Armada em 1893, tinha apenas um sonho: assistir o
Brasil sendo valorizado pelos brasileiros.
Considerava as terras
brasileiras mais produtivas do mundo. Investiu todo seu dinheiro na área rural.
Seu entusiasmo foi por água abaixo quando foi vítima de jogo político ostentado
pelo coronelismo.
Um assunto bem atual
abordado por Lima Barreto é a Reforma Agrária. Policarpo se questiona: por que
há tantos latifúndios abandonados nesse país? Por que as terras estão
abandonadas à improdutividade se há uma enorme miséria na população rural? Não
o bastante, em certa altura, Policarpo questiona: “Como era possível fazer
prosperar a agricultura, com tantas barreiras e impostos? Se ao monopólio dos
atravessadores do Rio se juntavam as exações do Estado, como era possível
retirar da terra a remuneração consoladora?”
Um outro ponto abordado
no livro é a caracterização dos políticos. “Os governos, com seus inevitáveis
processos de violência e hipocrisias, ficam alheados da simpatia dos que
acreditam nele; e demais, esquecidos de sua vital impotência e inutilidade,
levam a prometer o que não podem fazer, de forma a criar desesperados, que
pedem sempre mudanças e mudanças”.
A palavra chave do
texto de Lima Barreto é patriotismo.
A segunda mais importante é decepção.
Quaresma, preso e exilado, faz uma análise de sua vida e chega à conclusão de
que sua luta foi uma perda de tempo. Os políticos corruptos venceram a guerra.
Ao terminar o livro,
liguei a televisão e ainda tomado pela história de Policarpo Quaresma, senti a
mesma desilusão ao me deparar com inúmeros casos de corrupção e abuso de poder
praticado na política brasileira.
A pergunta que não quer
calar é: até quando o Brasil vai ser o país do futuro?
*
Jornalista
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