O menino esqueleto
* Por
Eduardo Oliveira Freire
O bruxo Josef era muito
sozinho e vivia em uma casa sombria, no meio da mata. Para não se sentir mais
solitário, utilizava a magia para criar amigos obedientes, mas, não duravam
muito.
Certo dia, pegou todos
os ingredientes e jogou no caldeirão secular. Surgiu um esqueleto pequeno, que
parecia ser um menino. O bruxo gostou de o servo ser menor, seria como um irmão
mais novo, que o colocaria no altar de irmão mais velho experiente e sábio.
No início, o menino
esqueleto o admirava e o obedecia cegamente. Mas, quando foi colher uma planta
na mata, a mando do bruxo, encontrou crianças brincando com um cachorro.
Admirou-se e quis curtir também. Quando se revelou, as crianças fugiram e o
cachorro mordeu sua perna com gosto. Nunca vira um enorme grande osso
ambulante.
Apesar do medo do
desconhecido, as crianças foram ao seu encontro. Os olhares se transformaram em
toques e, depois, em perguntas. O menino esqueleto não conseguia responder, sua
cabeça estava embaralhada. Brincou tanto com as crianças que chorou de
felicidade. A meninada se surpreendeu ao ver lágrimas escorrerem na face do
menino esqueleto.
Não quis falar ao
mestre sua experiência com as crianças. Tinha medo de sua reação. O bruxo dizia
sempre: “Sou seu senhor e dono. Tem que me obedecer sempre, do contrário vou
destruí-lo com minha varinha”.
Voltou diferente e o
bruxo sentiu uma angústia no peito. O menino esqueleto começou a questionar
sobre o motivo de só obedecer e, mesmo inventado por feitiços, era um ser vivo
independente. O bruxo ficou triste e com raiva de voltar a ficar só. Pegou a
varinha para destruir sua criação. Mas, o menino esqueleto fugiu pela janela e
foi para mata.
No dia seguinte, as
crianças e o cachorro retornaram para brincar com ele. O menino esqueleto
gostou de fazer amigos. Mas, no meio da brincadeira o bruxo apareceu. O
cachorro avançou e o mordeu.
O bruxo chorou e uma
das crianças foi para casa pegar curativos. Ele ficou sem ação e o cão lambeu
até o rosto dele, como forma de pedir desculpa. Depois do curativo feito, o
bruxo disse que não faria mais mal ao menino esqueleto.
Entretanto, o menino
esqueleto começou a se dissipar no ar e se despediu com um sorriso. Todos
ficaram tristes, até o cachorro uivou. O bruxo disse que seus feitiços sempre
foram provisórios e se fizesse outro menino esqueleto, aconteceria de novo.
As crianças disseram
que não. Pediram se ele poderia fazer nevar um pouco, já que nunca brincaram de
fazer bonecos de neve. Viviam em um país tropical.
Surgiu uma amizade
duradoura entre o bruxo e as crianças, que persistiu apesar das brigas,
desencontros e o tempo.
E sempre se lembravam
do amigo efêmero, mas não descartável: "O menino esqueleto".
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
Um ficcionista é alguém que aprendeu e nunca mais se esqueceu de sonhar, imaginar coisas, tornar o impossível real. Muito bem, Eduardo!
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