sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Pílulas literárias 145

* Por Eduardo Oliveira Freire

BREVE
Rua deserta, as folhas das árvores levemente movimentadas pelo vento; ao longe, gritos de crianças na hora do recreio. Uma senhora olha pela janela: Um rapaz cego toca um violino. Absorta ouvindo a melodia, não percebe que seus mamilos estão enrijecidos. Um gemido de dor a faz retornar. Prepara a injeção de morfina para o enfermo ter um pouco de paz.

***

ANOS ISOLADO NA MONTANHA...
Na cabana havia muitos livros, que relia várias vezes. Não sentia saudade de conviver com as pessoas. Um dia, escutou uma explosão e viu o céu ficar vermelho por vários dias. Sentiu medo, mas continuou com sua rotina. Dias se seguiram, um cheiro forte de podre surgiu na floresta. Ele estranhou, mas, ao ver os animais calmos, esquecia as preocupações. Foi ao rio lavar roupa. Escutou um barulho na mata. Escondeu-se atrás da árvore. Viu um homem e uma mulher sujos e com a pele cheia de vermes cruzando. O ermitão voltou para a cabana, olhou fixamente a vasta biblioteca que possuía. Acende uma vela, que se transforma num enorme fogaréu, atraindo a multidão da zumbis...

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FÁBULA
Era uma jovem encantadora. Quando percebia que todos estavam maravilhados por ela, pronunciava verdades pontiagudas. Quem tinha a consciência pesada, ficava com corpo e alma cravejados.

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– VOU A UM EVENTO CULTURAL
– Legal, sobre o quê?
– Matemática financeira.
– Está brincando? Pensei que fosse uma exposição em um espaço cultural.
– Ué, ela faz parte da cultura humana também.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

Um comentário:

  1. Tantas realidades duras, e ainda assim, mais leves na literatura que no mundo real.

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