terça-feira, 20 de novembro de 2012

“João Pé no Chão”

* Por José Calvino de Andrade Lima

“...Não à esmola,
é o sim ao emprego digno.
Não à violência,
é o sim da paz.
Não à ignorância,
é o sim da educação.”

João Calvino era um homem revoltado. Foi muito prejudicado, até mesmo pelos professores carolas, que entravam na sala de aula e se benziam. Principalmente o de história, quando dava aula sobre A Reforma Religiosa: “Foi o movimento que, dividindo os cristãos do Ocidente no século XVI, originou diversas novas igrejas chamadas protestantes, as quais não mais seguiriam o comando e a orientação do papa de Roma...”.

E quando chegava na parte “O Calvinismo”, todos alunos olhavam pra João e se benziam copiando o professor.

Aos treze anos de idade, era praticante de telegrafia da antiga Great Western. Devido à sua vocação aprendera telegrafia com facilidade, continuando como praticante de estação por causa da idade, mas já era um telegrafista autêntico e benquisto por todos. Aos dezoito anos, servira ao Exército Brasileiro. Observava bem os dizeres que têm na barreira capinada em frente ao quartel: AQUI SE APRENDE A DEFENDER A PÁTRIA, e pretendia fazer a sua carreira militar, um de seus sonhos de criança que estava se realizando. De uma virtude extraordinária, não se deixava vencer pelos colegas “irmãos de arma”, muitos deles analfabetos, achavam que o Exército os recebeu para ensinar a ler e a escrever com profissões diversas, e tinham que serem úteis à sociedade. Servir ao Exército, ao Povo, ao Brasil, com integração de todas as Forças Armadas de todas as Nações.

- Acerta o passo, filho da puta! – disse o sargento.
- É assim que se aprende a defender a Pátria?

Foi licenciado e desempregado por dois anos, desenhava com infantilidade trens puxados por “Maria Fumaça”, subindo e descendo serras, duas composições no mesmo sentido em linha dupla; eram pinturas inexperientes do imaginário quadro ferroviário de João, com seu lirismo, o qual servia poeticamente à índia, sua namorada. João conseguiu entrar na Rede Ferroviária como telegrafista, mas por “economia” a carteira profissional rezava natureza do cargo: Servente Provisório! Com cinco anos de ferrovia, não ganhava como telegrafista e por isso começou a reivindicar seus direitos junto aos ferroviários, através de abaixo-assinados,o que mais tarde, serviria para agravar sua situação, com diversas perseguições. Foi demitido da Refesa e, logo em seguida,entrou na gloriosa Polícia Militar. Lá, continuou escrevendo, desta feita para jornais, em cartas à redação, chegando a responder por isso a um IPM (Inquérito Policial Militar), sendo enquadrado por ser contumaz transgressor das regras básicas da boa educação e da disciplina, pois, em pouco tempo, causou transtorno em dois ambientes de trabalho no âmbito militar, tratando de forma desrespeitosa superiores hierárquicos...

Foi submetido a um Exame de Sanidade Mental no HCTP (Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico), em Itamaracá. Os médicos peritos responderam que “João Calvino apresenta traços de personalidade que freqüentemente o colocam em conflito com pessoas ou Instituições (uma constante ao longo de sua vida). Foi, e sempre será reivindicador, querelante e impulsivo (Um padrão permanente de comportamento)”.

Com mais um IPM arquivado, João pediu licenciamento. Naquele regime militar João viveu os piores momentos daquela época. Colocou a sua vida em risco, hoje um septuagenário, conhecido por João Pé no Chão (slogan nas suas campanhas políticas). Sempre foi contra as aposentadorias dos políticos... Eles deveriam participar dos benefícios dentro do regime do INSS como todos brasileiros. Ainda tem gente dizendo que não sabe como não botaram João Pé no Chão no Mensalão, dele tanto falar que multar o governo é uma piada sem graça. Os processos arrastam-se por anos sem que o governo do Estado pague a multa diária de um mandado judicial. Estamos praticamente no final do ano e até agora João Pé no Chão não recebeu. Com o governo é assim, mas, se fosse um trabalhador multado, a Justiça não agiria com essa morosidade. Cadê a lei que se deve obedecer, a fim de que se mantenha a ordem e se alcancem os fins desejados?

Finalizo com a frase criada por Charles De Gaulle: “Le Brésil n’est pás um pays sérieux” (O Brasil não é um país sério).

Nota – Alguns trechos extraídos dos livros: “O ferroviário” e “O grande comandante”.

* Escritor, poeta e teatrólogo pernambucano. Blog Fiteiro Cultural – http://josecalvino.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Tive a impressão de tratar-se do senhor seu pai, não apenas pelo nome semelhante, mas pelo espírito reivindicatório.

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