quinta-feira, 26 de abril de 2012

Legitimidade e inconstância

* Por Pedro J. Bondaczuk

As incertezas, na melhor das hipóteses, retardam nossos passos rumo ao objetivo que traçamos, quando não os inviabilizam. Daí a necessidade de nos informarmos, previamente, e o máximo possível, a respeito do que queremos, para estarmos certos da sua excelência e de que não se trata de simples miragem, de mera ilusão que, depois de alcançada, irá nos decepcionar.


Nem tudo o que aparenta ser, de fato é. Muitas vezes, corremos atrás do que consideramos concreto e substancial que, na verdade, não passa de mera sombra, abstrata e fantasiosa. Claro que num mundo de mistérios e engodos, poucas são as certezas ao nosso alcance.


O que não podemos é sair em busca de um ideal, qualquer que seja, tendo os passos tolhidos por incertezas. Se o fizermos, não chegaremos a lugar nenhum. Pelo contrário, iremos patinar, como se caminhássemos sobre uma superfície de gelo e nosso caminhar será como o de um bêbado: um passo para a frente, dois para trás.


Deixamos, via de regra, de conquistar nossos sonhos não porque lhes falte legitimidade (que quase nunca falta), mas por sermos inconstantes e desistirmos dessa longa corrida tão logo surjam os primeiros obstáculos. Claro que são poucos os que sequer admitem essa tibieza e falta de disciplina.


É nisso, porém, que os verdadeiros heróis se distinguem dos que não são. Ou seja, são centrados, determinados, inflexíveis e não se desviam nunca dos objetivos traçados. Conhecem as regras do “jogo” a que se propõem a jogar e as seguem, sem desvios e nem fraudes. Constância é a palavra-chave dos vencedores, seja qual for o desafio que encarem.


O filósofo Ralph Waldo Emerson fez a seguinte constatação a propósito no livro “Considerations by the way”: “A corrida é longa, e o ideal, legítimo, mas os homens são inconstantes e incertos. O herói é aquele imovelmente centrado. A principal diferença entre as pessoas parece ser a de que um homem é capaz de se sujeitar a obrigações das quais podemos depender – é obrigável – e outro não é. Como não tem a lei dentro de si, não há nada que o prenda”.


Ou seja, a maioria rebela-se contra as regras (legais, morais ou sociais, não importa) e, óbvio, paga um preço por isso. Esbarra nesse obstáculo e, em vez de transpô-lo, culpa, invariavelmente, o mundo pelos seus fracassos. Não sabe jogar, mas não admite isso. Afinal, é mais simples e cômodo abandonar a luta, principalmente quando se tem pretextos, aparentemente sólidos, para justificar o abandono do que se sujeitar às suas regras.


Há pessoas que se queixam de que suas vidas são vazias e monótonas e que têm que conviver, à sua revelia, com o tédio. Dizem que seus dias são sempre iguais e que carecem de movimento e de emoções. Quem pensa dessa maneira é porque não tem intimidade consigo mesmo. Não soube construir um mundo interior rico e variado e não desenvolveu o saudável hábito da meditação.


Pior, não estabeleceu um ideal a conquistar e, dessa forma, não há, de fato, como viver um cotidiano rico e alegre. Ou se estabeleceu, pôs diante de si meta fantasiosa e irrealizável. Não se informou antes a respeito, não avaliou as próprias forças (ou se o fez, as superestimou) e por isso ficou no meio do caminho. Às vezes, nem isso fez. Não deu sequer um passo na largada da corrida em busca do seu suposto ideal.


Quem traça nossa trajetória de vida somos nós mesmos. Ademais, como afirma o escritor Marcel Proust, “os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem”. E por que esse “talvez”? Porque nem para esses objetos de precisão há essa igualdade. Afinal, duas vezes por ano, os dias variam com a entrada e a posterior saída do “Horário de Verão”.


Ame, relacione-se, faça amizades, doe-se e medite. Tenha um ideal nobre e factível pelo qual lutar. Conheça as “regras do jogo” e siga-as sem titubear. Esteja sempre certo do que quer e seja determinado e constante em sua busca. Não desista nunca, por maiores que pareçam ser os obstáculos em seu caminho.


Se o objetivo que você traçou for mesmo factível, se a tarefa não for superior às suas forças e/ou capacidade, não há porque temer e muito menos desistir. Mais cedo ou mais tarde, a vitória irá lhe sorrir. Às vezes demora um pouco, por isso, você precisa ser paciente.


Reitero, porém: esteja absolutamente certo de que a meta que estabeleceu é, de fato o que você quer e que lhe será benéfica e agradável. Agindo assim, não haverá tédio, obstáculo ou incertezas que resistam à força do seu pensamento. Tente e verá.


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk


Um comentário:

  1. Estou me procurando para ver em qual tipo eu me encaixo. Não descobri. Talvez envergue uma característica intermediária. Fiz e aconteci, mas há algum tempo sinto-me cansada. Preciso descansar. E rápido.

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