Felicidade compulsória
* Por Sayonara Lino
Tudo o que é obrigatório traz um
grau de comprometimento que em certos momentos da vida torna-se difícil, mas
que cumprimos pelas mais diversas razões. Evitamos faltar ao trabalho de todas
as formas, fazemos o possível para ir à faculdade com frequência, cuidamos de
todas as tarefas necessárias ao desenvolvimento natural do cotidiano para que a
vida flua e tudo esteja cercado por uma certa harmonia. Mesmo que bata a
vontade de jogar tudo para o alto, o bom-senso e o instinto de sobrevivência
dão um jeitinho de sossegar nossos instintos.
E quando o que é obrigatório,
cobrado de nós, sem que talvez notemos, é o sentimento de felicidade? O que
fazer se não sentimos aquela alegria perene, se não estampamos aquele largo
sorriso na cara pálida, se nossas olheiras andam lilases de tanto cansaço
acumulado?
Como é difícil andar com
disfarces, ensaiando para que ninguém pergunte o motivo de você estar um pouco
menos falante, um pouco mais magra, um pouco insípida, um pouco áspera. Você,
que sempre foi um doce, tão comunicativa, tão carismática.
A sociedade não quer a tristeza,
a depressão, as desventuras, as adversidades. Se aconteceu com alguém, pode
acontecer comigo, então não se fala mais nisso. Vamos varrendo a sujeira para
debaixo do tapete, vamos fingindo, empurrando, gargalhando e tomando champanhe
na festa de formatura da vizinha, no aniversário da concunhada, no batizado do
primo, nas bodas de algodão da irmã.
Sempre bonita, sorrindo,
disposta, feliz. Felicidade compulsória, ninguém suporta uma dose a mais de
melancolia.
* Jornalista, com especialização em Estudos Literários
pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova
especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição.
Diretora de Jornalismo e redatora da Revista Mista, que é distribuída
em Governador
Valadares , Ipatinga e Juiz de Fora, MG e colunista do portal www.ubaweb.com/revista.
Verdade. A tristeza é uma doença insuportável aos olhos dos outros. Somos obrigados, mas não devemos fingir felicidade, mesmo sabendo que sofrimento ofende quem estiver perto da gente.
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