segunda-feira, 14 de julho de 2014

Os uníssonos

* Por Alexandre Vicente

Tenho medo das vozes que se dizem uníssonas. Tenho medo do clamor que se diz uníssono. Tenho medo daqueles que só enxergam o preto e o branco, não os daltônicos natos, mas os funcionais. Tenho medo daqueles que só conhecem dois lados. A verdade e a mentira; o sol e a lua; a noite e o dia; o certo e o errado. Simplesmente temo os extremismos. Seja de que cor ele se pinte. Vermelho, amarelo, verde…

Amedrontam-me esses uns que não conseguem ver o que há por baixo, por cima, à direita, à esquerda, em frente. Não veem as mentiras ternas de quem quer lhes poupar a dor. As meias verdades, que descobrem apenas o necessário para não ferir quem já está no chão. Não conhecem as estrelas, outros planetas ou cometas. Em sua cegueira do sim/não, são incapazes de perceber que existe o entardecer antes de chegar a noite e um amanhecer antes de chegar o dia. Que existem matizes em tudo que nos circunda.

Meu recado a estas vozes pseudouníssonas é que parem de crer em salvadores da pátria. Mais cedo ou mais tarde, estes acabam se revelando apátridas. Párias.

Não espere colher morangos, em plantações de pimentas. Podes queimar a língua. No fundo somos todos pimenta. Com nossos matizes, nossos tipos e cores. Seja do reino, malagueta, dedo-de-moça, cumari… somos pimenta e temos nosso pouco de veneno. Antes de sermos uma só voz, somos indivíduos com opiniões e interesses diferentes.

Os uníssonos são intolerantes. Calam as vozes. Inibem as vontades. Tolhem as liberdades.

Por isso temo os equivocados autointitulados uníssonos.


* Escritor carioca

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