Antônio e Justino
* Por
Eduardo Oliveira Freire
"Os dias talvez
sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."Autor - Proust ,
Marcel
Antônio brincava no
quintal. Ele morava num lugar, que antes era uma senzala. Sua avó contava
histórias dos tempos de escravos e de como eles sofriam nas mãos dos senhores.
Não muito longe dali, havia a Casa Grande que já estava em ruínas.
Um dia, teve
curiosidade de entrar nessa casa “mal assombrada”. Subiu uma escada velha, que
rangia e teve medo de desabar junto com ela. Entrou no primeiro quarto que viu.
Lá, havia uma cama antiga toda comida pelos cupins e sem colchão. Antônio, com
medo, decidiu ir embora. Quando estava saindo do quarto, escutou uma voz de
menino: – Espere negrinho!
Antônio assustado viu
um menino com uma roupa esquisita. Tinha os cabelos cacheados e uma olhar
desafiador. Antônio perguntou: – Quem é você menino? Nunca te vi mais gordo.
O outro disse
agressivamente: – Negrinho abusado!
Antônio ficou furioso:
– Você tá cheio de marra. Vou embora!!
– Fica onde está!
– Quer me bater, vem
logo. Vou dar uma lição.
O menino de roupa
esquisita pegou um chicote pequeno e correu para cima de Antônio, mas o chicote
atravessou o corpo de Antônio sem causar nenhum arranhão.
– Bem feito! Quem manda
ser metido, fantasminha.
– Vou falar com meu
pai: O Conde das Serras Verdes.
– Espera aí, já ouvi
falar nele. Minha avó falou que ele era um senhor muito mau.
– Ele não é malvado. É
um homem forte.
– Mas, ele viveu há
mais de cem anos atrás.
– Como assim, estamos
em 1826.
– Não seu idiota,
estamos no século 21.
– Então, você não é um escravo?
– Não, sou livre. A
princesa Isabel assinou a Lei Áurea e libertou todos os escravos negros. Você
não sabia disso?
– Não.
– Qual é seu nome?
– Justino.
– É um fantasma. Não pode estar vivo.
– Claro que não, vou
chamar meu pai!
A casa continuou
silenciosa. Ele percebeu que o outro estava com razão. Depois da briga, ficaram conversando.
Com o passar do tempo,
começaram a trocar informações sobre suas respectivas épocas. Antônio mostrou o
celular, internet e o videogame. Já, o Justino mostrou seus livros prediletos e
brinquedos antigos.
Antônio disse a Justino
que os livros de sua época tinham uma linguagem mito difícil. Justino
argumentava achar que a Internet transmitia informações com muita rapidez e ao
mesmo tempo. Ele ficava com a cabeça embaralhada. Começaram a ficar amigos.
Trocavam ideias e brincavam bastante.
O tempo passou e Antônio
teve que viver a vida adulta. Casou e teve três filhos. Entretanto, sempre fazia uma visita ao seu
amigo e contava sobre sua mulher, filhos e depois os netos. Justino achava
graça de ver o amigo crescer até ficar com os cabelos brancos. Um dia, Antônio
nunca mais voltou.
Justino conheceu outros
colegas que sempre o fizeram pensar que o mundo está em constante mudança.
Muitas vezes, tinha medo de quando a vida humana acabasse, ficaria sozinho no
mundo.
Quando aconteceu,
vieram outros seres e Justino aprendeu muito com eles e ensinou sobre os seres
humanos extintos. Sempre revivia a lembrança de quando encontrou Antônio, pela
primeira vez.
Sentia uma nova
sensação ao contá-la, como se sempre encontrasse algo novo que lhe passasse
despercebido.
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
O final teve um salto rápido demais. Fiquei desapontada, pois estava gostando das trocas entre quase dois séculos de distância, mas ainda assim foi bom conhecer o tamanho da sua imaginação. Só não deve ir rápido demais. É um bom mote para um romance.
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