O Pan da literatura
Por Rodrigo Capella
Sim, você entendeu certo. O
título trata com ironia os Jogos Pan-americanos do Brasil. E digo mais: em vez
de investir em educação, saneamento básico e diversificação dos livros, os
governantes tupiniquins resolveram hospedar o maior evento das Américas: os Jogos
Pan-americanos. É mole?
Vamos a alguns números: o Censo
Escolar, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontou que, em 2006, a educação básica
brasileira recebeu 0,9% de matrículas a menos do que em 2005. Parece pouco, mas
esse índice mostra que mais de 500.000 alunos deixaram de estudar no ano
passado. E o que o governo fez? Preferiu investir no Pan.
Os jogos consumiram mais de R$ 5
bilhões, com a construção de estádios, complexos esportivos, centro nacional de
tiro, centro de hipismo, campo de hóquei, piscinas e outras modernidades mais.
É tudo um luxo só! Além disso, foram erguidos mais de mil apartamentos,
localizados em 17 prédios. Por que não construíram escolas, ao invés de
prédios? Por que não construíram salas de literatura, ao invés de centro de
hipismo, só utilizado pela elite? Vai entender!
Um dado
curioso: você sabia que o tradicional revezamento da tocha Pan-americana custou
R$ 4,7 milhões, que foram pagos pelo Ministério do Esporte? E que um outro
Ministério, o da Justiça, gastou R$ 562 milhões em infra-estrutura,
equipamentos, inteligência e recursos humanos? Sabia? Pois é, e depois os
governantes reclamam que falta dinheiro para investir em saúde, segurança e
outras prioridades mais. Vai entender!
Além
disso, o Pan terá 14 helicópteros e 10 motoplanadores, que consumiram um
investimento de mais de R$ 50 milhões. As contas não param por aqui. O evento
ainda terá algumas obras cujo valor ainda não foi contabilizado e alguns
prejuízos que serão noticiados meses depois.
Estima-se que o Pan gere um
retorno de mais de US$ 1 bilhão. Afinal, são 42 países participantes que contam
com, aproximadamente, 5 mil atletas. É bastante gente! Pena que o investimento
é desnecessário e se configura em um grande desperdício.
Invés de fazer os Jogos
Pan-americanos, o Brasil poderia promover o Pan da Literatura, com uma melhor
educação para o povo, baseada em uma ampliação da leitura e uma estimulação de
novos leitores. A leitura deixa o povo mais culto e mais preparado para os
desafios da vida. Pena que o governo brasileiro não saiba disso. Viva os Jogos
Pan-americanos!
(*) Escritor e poeta. Autor de livros como "Transroca, o navio
proibido", que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer,
e "Poesia não vende", que traz
depoimentos de Ivan Lins e Moacyr Scliar, entre outros. Mais informações: www.rodrigocapella.com.br
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