Desperta!
* Por Núbia Araujo
Nonato do Amaral
Quando menina questionava-me sobre o vento, o sol,
a lua. Intrigavam-me as diferenças, umas gritantes outras disfarçadas pelo véu
da cordialidade. Incomodavam-me certas afeições, entrelaçamentos. O peito me
pesava e eu, menina, apenas chorava.
Cresci, a vida foi me empurrando e
acomodei-me. Guardava apenas nos olhos o peso de uma vida que não me vestia
bem, que não me calçava bem. Rezava o Pai Nosso e dormia, não havia mais nada
a fazer.
Permissiva, contentei-me com
migalhas, afinal há sempre um leque de exemplos, espelhos mil. O tempo tentava
me dar tempo, levou minha mãe, obrigou-me a conviver num mundo com lágrimas e
um enorme buraco no peito.
Minha irmã adoeceu, senti
a dor na alma e o medo de não poder estender-lhe a mão, me sacudiu. Acordei,
redescobri no sofrimento a fome e a sede. Descortinei um pesado véu, o do
comodismo. Olhei-me com criticidade, despi-me da ignorância. Sempre tive
medo de seguir sozinha, sempre tive medo desse despertar...
Ainda sigo só, pois a caminhada
é única e as vezes dolorosa. Como a menina que outrora fui, ainda questiono,
mas aprendi a ouvir as respostas. Torço para que o despertar seja contagioso,
pois a alegria de viver apenas há de se completar na eternidade.
* Poetisa, contista, cronista e colunista do
Literário
Amargos momentos contados de forma digna e sincera, invocando palavras molhadas de poesia.
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