Certo dia
* Por
Eduardo Oliveira Freire
“Os
outros são nossos narradores. Não há fuga possível para o discurso alheio que
nos constrói. Estamos à mercê dos advérbios que não queremos, dos adjetivos que
não merecemos, dos pronomes que não escolhemos. Nossa história não nos
pertence.
—
Felipe Pena - "O Verso do Cartão de Embarque".
- Oi!
- Oi! Quem é você?
- Não me reconhece? Sou
eu, a gente conversou na madrugada adentro em nossos sonhos.
- Como? Está
equivocado, senhor.
- Poxa, no sonho é mais
simpática. Não acredito que não se recorde de nossas conversas...
- Senhor, se não parar
de me importunar, chamarei a polícia!
Ele a pegou pelo braço
e a mulher gritou por socorro. A polícia veio e interviu. Ela deu queixa na
delegacia.
Quando foi dormir,
sonhou com uma mulher igual a ela:
“ Desculpa incomodar
seu sono, mas o rapaz que a abordou é um cara legal, só um pouco problemático.
Quando ele a viu, pela primeira vez, criou-me. Mas, sou um ser com pensamentos
próprios, não uma marionete. Gosto dele por livre espontânea vontade... Por
favor, retire a queixa! Juro que conversarei com ele e não vai mais
incomodá-la!”.
No dia seguinte, a
mulher retirou a queixa, mas não gostou da ideia de ter uma pessoa igual a ela
na cabeça de um estranho. Sempre quis ser única.
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
Muito louca essa sua ideia, Eduardo. Eu quero diferente, quero ser apenas personagem no sonho de quem eu quero bem.
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