domingo, 23 de fevereiro de 2014

No meio era o recreio

* Por Deonísio da Silva



Roma invadiu Portugal, impondo ali a língua latina. Desde essa época os portugueses são chamados também lusos e lusitanos porque Roma chamava aquela região de Lusitânia, em homenagem a Luso, um dos deuses do vinho. O outro é Dionisius, que na Grécia tinha o nome de Dionisos e em Roma era conhecido também por Baco.

Portugal passou a falar e a escrever a língua latina de um modo diferente e foi aí que nasceu a língua portuguesa. E é por isso que se diz que a língua portuguesa é filha da língua latina.

O resultado é que passamos a dizer e a escrever aquelas palavras de outro modo: aula, escola, pedagogo, academia. As aulas passaram a ser dadas nas sacristias das igrejas. Ali os pedagogos eram padres, clérigos ou seminaristas de congregações religiosas que tinham professado, isto é, tinham feito votos de castidade, pobreza, obediência.

O pedagogo era agora professo, mas a língua portuguesa tem como padrão acrescentar a terminação “or” ao radical de algumas palavras que indicam ocupações. Quem professa, é professor, assim como aquele que se dedica à agricultura é agricultor e aquele que se dedica à pesca é pescador.

Quando Portugal descobriu o Brasil, trouxe para cá os padres, principalmente padres jesuítas, para ensinar nas escolas.

Os principais foram José de Anchieta e Manuel da Nóbrega. Eles nunca tiraram férias, pois nas férias precisavam cuidar dos alunos. Feria em latim é descanso, dia de festa. Por isso os dias da semana têm os nomes que têm na língua portuguesa. Domingo era dia de festa, de descanso. Os comerciantes aproveitavam para vender as coisas: ovos, galinhas, lãs, roupas, ferramentas. Um dia depois do domingo a feria, depois mudada para feira, ainda continuava. Vinha a segunda-feira, depois a terça-feira, depois a quarta-feira, depois a quinta-feira, depois a sexta-feira. E por fim recomeçava tudo de novo com o sábado e com o domingo.

Na antiga Roma, aluno era chamado de alumnus, porque o que eles mais faziam era alere, crescer, desenvolver, nutrir. Também alimentum, alimento, vem do verbo alere, que está ligado a amamentar porque era a mamma, a mãe, verdadeira ou de criação, adotiva, quem dava as primeiras lições enquanto amamentava as crianças.

As palavras nos contam muitas coisas, mas é preciso freqüentar muito as aulas, passar bastante tempo nas escolas e prestar atenção aos professores que para ensinar aos alunos usam os livros.

Livro também veio do latim líber. Quem se dedica aos livros vive em liberdade, do latim libertas. Os livros e os professores nos libertam, isto é, nos livram da ignorância. Eles fazem isso nas escolas.

Nós deveríamos passar muito mais tempo nas escolas. É lá que se aprende, pois lá estão os professores, as salas, as bibliotecas cheias de livros, os laboratórios etc. E, claro, lá também estão os campos de futebol, as quadras de vôlei, as cantinas, que ninguém é de ferro.

* Escritor, Doutor em Letras pela USP, autor de 30 livros, alguns transpostos para teatro e TV. Assina colunas semanais na Caras e no Observatório da Imprensa. Dirige o Curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá, no Rio.

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