sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

As máscaras do Black Bloc

* Por Urariano Mota

Dizem que Black bloc é uma tática para protestos e manifestações de rua, onde os participantes se utilizam de roupa preta, máscaras, capacetes, que escondem o rosto. Isso em teoria, claro. No obscuro, adotam máscaras para a destruição do que imaginam ser objetos capitalistas, e depredam, invadem e destroem o patrimônio de pequenos comerciantes, como donos de bancas de jornais, tocam fogo em carros de trabalhadores, quebram vitrines e portas de bancos. E enfrentam a polícia, à sua maneira, provocam e se escondem. E provocam com tal arte, que atraem para suas fileiras policiais, mas sempre de máscara.        

Daí que muitos governos estaduais tentaram criar leis disciplinando a utilização de máscaras. De caras limpas, poderíamos vê-los no momento da consumação do crime. Mas na verdade, amigos, as máscaras dos black blocs foram utilizadas antes.

Confundidos com a massa, primeiro eles eram os manifestantes contra o aumento da passagem de ônibus; vitoriosa essa bandeira, passaram à reivindicação da tarifa zero para a população; depois, contra a corrupção, em geral; depois, contra os desgovernos federal, estaduais e municipais; e de quebra, diria melhor, de quebra-quebra, bandeiras e faixas contra o Mais Médicos, contra a presidenta Dilma, contra os políticos em geral. E passaram a jogar bombas nos prédios da Câmara de Deputados, assembleias legislativas, câmaras municipais. Aplausos, muitos aplausos da mídia. Viva a juventude inconformista que contesta as velhas bandeira da esquerda, que são contra partidos políticos, contra os políticos. Viva. Salve. Aplausos. Bravos. Havia até um bordão nos noticiários: “o protesto continuou pacífico, mas..” e apareciam imagens dos efeitos colaterais, secundários, das invasões e desrespeito à democracia.  Parece mentira, mas este era o tom:

“Protesto reúne mais de 10 mil pessoas e faz ‘tremer’ a rampa do Congresso Nacional” era a notícia e o canto do entusiasmo. E mais: “A onda de protesto que há duas semanas sacode o país tomou contra do Congresso Nacional, em Brasília, em uma noite histórica para jovens e adultos que ocupam neste momento parte da chapelaria e da rampa que dá acesso à sede do Poder Legislativo.  O dia 17 de junho nunca mais será o mesmo. Foi quando no ano de 2013 manifestantes puderam extravasar a sua angústia e revolta diante dos graves problemas do país”.

Os Black blocs na massa, assim mascarados, tiveram o apoio e simpatia de mais amplos setores da mídia, foram até saudados por cabeças de colunistas como “o dado novo” da política brasileira. E não viam, não queriam ver ou faziam de conta que nada enxergavam os excessos, bobagens como espancamentos de militantes socialistas, queima e destruição de bandeiras, repressão à voz partidária. Ah, uma coisa secundária. Os jovens porque os jovens porque os jovens, e a faixa etária virou uma categoria política e ideológica. Que digo? Uma categoria nova de revolucionários.  Mas agora temos um cadáver no seio da própria imprensa. O que fazer diante dos meninos que são mais loucos do que imaginávamos?  

No entanto, os Black bloc e apoiadores não fizeram autocrítica. Escondem-se do crime, mas continuam com o mesmo discurso. Nas suas páginas continuam:

“Manifestantes que se diziam ‘Brabos’ agora estão com medo e expondo a imagem de pessoas que não tem nada a ver. NÃO TEM OUTRO NOME PRA ISSO DO QUE COVARDIA E TRAIÇÃO.

SE CONTINUAREM, MEDIDAS SERÃO TOMADAS
Vamos expor todos os ‘falsos manifestantes’

Batem nas suas costas dizendo que são irmãos, mas na verdade estão ali pra te f¨%$ e expor sua vida quando percebem o perigo se aproximando. NÃO TEM A CAPACIDADE DE ENFRENTAR E ENTÃO PONHE O DO OUTRO PRA TIRAR O SEU DA RETA.. COVARDES!

É isso que o governo quer (não sermos unidos e com isso diminuir as manifestações). Essa é a hora onde separamos claramente os verdadeiros dos traíras!

NÃO PASSARÃO
AGUARDEM”

E no mesmo nível da evasão escolar acima, invadem os comentários: “Eu admiro vcs!!!! Não se abatem nunca... Vcs lutam pelos ignorantes desses pais que elegem os políticos merdas...”. E escrevem lá a nova bandeira: “Brasil, país de merda”. E links do gênero Vandalismo é Art.  

O que desejam, além do caos?  - Um golpe salvador de direita. Uma ditadura sem máscara. Daí que as investigações do assassinato do cinegrafista Santiago Andrade se dirijam agora contra partidos de esquerda. Na aparência, isso é um efeito colateral da  ação dos Black contra os partidos em geral e contra a vontade do povo em particular. Na verdade, é mais, era até previsível. Ainda é tempo, esperamos que ainda haja tempo, de aprofundarmos uma crítica a esses novos fascistas. O efeito colateral é a sua essência.

* Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici e “Soledad no Recife”.  Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao ensino em colégios brasileiros.



Um comentário:

  1. Quando mencionei que os black blocs eram de direita, lá no Facebook, quase fui apedrejada. Pelo menos mais um que pensa como eu.

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