* Por Fernando Yanmar Narciso
O sentimento que mais nos apavora é saber que 100% das coisas que nos cercam, incluindo nós mesmos, não são infinitas. Os mais paranóicos afirmam, “sem sombra de dúvidas”, que este é o último ano do mundo, e que muito em breve, em duas semanas para ser mais exato, estaremos frente a frente com nosso fim. Mas, cá entre nós, quantas vezes já não vimos gente afirmando com veemência que do ano/mês/dia/hora X a humanidade não passaria? Nossos antepassados já viram centenas, quem sabe milhares de vezes, e em quase todas ainda estavam vivos no dia seguinte para contar aos netos como haviam sido ingênuos... Quem, em seus 50 ou 60 anos, não se lembra do auê que fizeram sobre a passagem do cometa Halley em 1986? Eu tinha só dois anos naquele ano, mas conforme pesquisei e meus pais me contaram, foi um frenesi digno das previsões de Nostradamus.
Ainda que tenha havido uma meia dúzia para acreditar que o cometa desceria dos céus como uma espada de fogo e partiria a Terra ao meio, a maioria o via de maneira positiva. Teve o filme/ desenho animado Os Trapalhões no Rabo do Cometa, onde eles usavam os poderes intergalácticos do cometa para viajar no tempo, a turma do Balão Mágico tinha o robozinho Halleyfante, enfim, houve merchandizing de todo tipo em torno do grande astro. Pena que, na hora H, tudo o que se viu no céu foi uma fagulhinha sem graça passando bem longe, o extremo oposto de como os avôs de nossos pais contaram que ocorreu em 1910. Tomara que nossos descendentes tenham mais sorte na próxima vez, se é que haverá uma próxima vez.
De fato, já foram inúmeras as vezes que o mundo esteve em vias de se autodestruir. Em toda grande guerra esse sentimento nos assalta. Quando os Estados Unidos- sempre eles- pipocaram as bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaki, os japoneses sentiram na pele o legítimo fim do mundo. Depois disso, a América do Norte e a União Soviética se afundaram nos quase 50 anos da Guerra Fria. Os armamentos nucleares de ambos os lados haviam se tornado tão destrutivos que as pessoas tinham medo até de pôr a ponta do nariz pra fora de casa. População apavorada é mais fácil de manipular, como todos sabem.
Passaram a construir abrigos antibomba em seus quintais e estocar mantimentos para o caso de não sobrar mais nada do lado de fora. Crianças eram forçadas a fazer treinamentos ridículos de defesa nas escolas, onde mandavam que se escondessem embaixo das carteiras em caso de explosões. Dá pra acreditar? “Ao vir o clarão, a melhor forma de se defender da explosão nuclear é se deitando no chão e cobrindo a cabeça”, eles diziam. Aquela década também foi o início da corrida espacial, mais um motivo de preocupação para os de mente fraca. Muitos acreditavam que homenzinhos verdes viriam em discos voadores do planeta vermelho e deixariam todos brancos de medo com suas armas laser. Em 1962, o mundo esteve de fato na iminência de virar uma pilha de cinzas, com a crise dos mísseis cubanos. Tempos apavorantes foram aqueles, mas pelo menos era um medo com ambos os pés fincados na realidade, já agora...
A turma de estressados de hoje assiste aos filmes-catástrofe de Roland Emmerich como se fossem documentários no canal NatGeo. Nem dá para contar o número de pessoas que acreditam que algo terrível acontecerá no dia 21, e isso graças a que? Ao “maravilhoso” filme 2012 do Emmerich, que trouxe à tona uma profecia (inexistente) do calendário Maia.
Essa história de calendário Maia é o novo Bug do Milênio. Lembram-se dele? Se faltasse um mísero dado num computador na virada do ano 2000, todos os calendários retrocederiam para 1900. O que teve de gente se escondendo no porão com armas, estoques de água, fita isolante e discos dos Backstreet Boys naquele dia não estava no gibi. Agora a situação é praticamente a mesma, só que elevada à máxima potência. Nos Estados Unidos já existe um grupo chamado Preppers, composto basicamente por matutos sulistas paranóicos aficionados por teorias de conspiração, que se sujeitam a treinamentos militares de sobrevivência ao juízo final. Agora todos eles já vivem em seus bunkers particulares, onde com certeza estarão muito seguros para, vocês sabem, quando o planeta estourar. Olha, dá até pra ver os milhões de pessoas querendo processar os Maias no dia 22... Mesmo assim, espero que ainda estejamos aqui no dia seguinte, quando tiverem descido do céu Jesus Cristo, o Pé Grande, Darth Vader e os Incas Venusianos. BUM!!
*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br


Misturou alhos com bugalhos, no seu típico humor sarcástico, mas ficou interessante.
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