Notas de realidade (a estupefação dos
dias)
* Por Fernando Mariz Masagão
Um cão entrou no bar
e de tão besta-fera,
assustava.
Foi logo pedindo uma dose
e mais uma
e mais uma.
Bêbedo e com estrépito
pôs-se a assoviar o Charlestone
e a dançar.
Os circunstantes, porém, nada notaram.
Eles não conheciam aquela dança.
Pergunta-se:
E se ser sóbrio doer demais para uns tantos...
É muita covardia querer esquecer?
Não se receitam drogas para as dores do corpo?
Não são elas vendidas?
Compradas?
Consumidas?
Pois então.
Por que não para as dores da alma?
Acaso elas não existem, doutores?
A filha da puta chega a latejar.
Incomoda feito uma dor de dente,
mas uma dor de dente do tamanho da vida.
*Fernando Mariz Masagão é músico,
dramaturgo, poeta e colaborador de publicações online sobre arte, com crônicas
e críticas musicais. Guitarrista e vocalista de bandas de rock'n'roll,
tem formação clássica vigorosa, em cursos de regência sinfônica,
apreciação musical e instrumentação.
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