Dificuldades no segundo
degrau
A Seleção Brasileira
não teve o sucesso esperado por seus torcedores na tentativa de galgar o
segundo degrau, dos sete que terá de subir para a conquista da sua sexta Copa
do Mundo. Todos falam em “hexa”, mas, para mim, essa designação não é
apropriada. Por muitos e muitos anos, as designações bi, tri, tetra etc. eram
utilizadas, apenas, quando se tratava de ganhar títulos consecutivos. Isso
mudou, se não estou enganado, em 1970, quando o Brasil venceu seu terceiro mundial, embora não
seguido – pois houve o vexame de 1966 - em gramados mexicanos. Mas... isso não
importa. Consideremos que a Seleção esteja em busca do hexa.
Não se pode falar em
tropeço, na tentativa de galgar o segundo degrau, pois os comandados de Felipão
não perderam. Digamos que subiu “parcialmente” esse segundo piso, com metade
dos pés nesse patamar, tendo que se equilibrar e dificultando, por conseqüência,
a subida do seguinte. E olhem que essa é a parte mais fácil desse enorme
desafio. Afinal – não resisto a tentação de repetir o surradíssimo clichê – “no
futebol não existe mais time bobo”. Não existe mesmo? Claro que existe! Mas em
uma Copa, com os nervos à flor da pele, todo cuidado é pouco. Exemplo? A
todo-poderosa Holanda por pouco não foi surpreendida pela teoricamente medíocre
Austrália.
Não me canso de
destacar e de reiterar que o futebol, notadamente em nível profissional, é,
mais do que um esporte, um jogo. Está, portanto, submetido a todos os fatores
aleatórios desse tipo de disputa. Além do que, é modalidade coletiva. Não
depende de um único atleta, mas dos onze e dos três reservas que possam
evetualmente ser aproveitados. É certo que se os dez tiverem desempenho normal
e décimo primeiro for excepcional, este último pode ser decisivo. Mas o mesmo
raciocínio vale, também, em sentido negativo. Ou seja, se algum zagueiro, meio
campista e, principalmente goleiro, destoar, essa má atuação pode (e quase
sempre é) ser decisiva para determinar a derrota de toda a equipe. É isso que
os “teóricos” não entendem. Tratam o futebol como aquilo que ele não é: ou
seja, como ciência exata. O que irrita é a arrogância com que determinados
comentaristas tentam nos enfiar goela abaixo suas opiniões. Mas... deixa pra
lá!
Discordo dos que
disseram que a Seleção Brasileira jogou mal. Se assim fosse, teria saído
derrotada do campo. Todavia, não foi nenhum primor de técnica. Alguns
jogadores, sobretudo os do meio de campo – Paulinho, Oscar e Ramires – deixaram
a desejar. Nossa maior estrela, Neymar, teve performance apenas discreta,
embora sem comprometer. Todavia, houve atuações destacáveis, sobretudo as do
sistema defensivo, com a segurança de Thiago Silva, David Luís e, principalmente,
de Luís Gustavo, que teve atuação impecável. O México teve, a rigor, apenas duas
chances claras de gol e em ambas Júlio César se houve bem.
Do lado mexicano,
porém, seu goleiro, Ochoa, fez uma partida memorável. Sem exagero algum, evitou
no mínimo quatro gols brasileiros, o que derruba a opinião dos comentaristas
que, do alto da sua arrogância, juram por todas as juras que a Seleção jogou
mal. Com certeza, assistiram a outro jogo ou, então, sonharam que isso
aconteceu. Afinal, vimos as mesmíssimas imagens que eles. E supondo que todas
as oportunidades criadas pelas duas equipes fosse, convertidas em gols, o
placar seria de 4 a 2 para o Brasil e não o “mentiroso” 0 a 0.
O curioso é que Ochoa
não é tudo isso que mostrou particularmente em Fortaleza. Não está, por
exemplo, entre os primeiros no ranking de sua posição na Copa. E muito menos no
europeu. Tanto é que na última temporada, jogando na Espanha, teve temporada de
discreta para ruim. Chegou ao Brasil desempregado, dispensado pelo clube
espanhol que defendia. Diz-se que, após a atuação contra a Seleção Brasileira,
já tem propostas de clubes ingleses para disputar a Premiere League da próxima
temporada. Ele mesmo admitiu que fez a partida de sua vida. E fez mesmo. Isso
confirma o que não me canso de afirmar e de reiterar: que o futebol, mais do
que esporte, é um jogo. Como tal, está
sujeito a fatores aleatórios, de sorte e azar.
Se há uma atividade em
que é ingenuidade teorizar, esta é a modalidade que tanto nos apaixona. Mesmo
não sendo comum, não é tão raro assim um time, ou uma seleção, tidos e havidos
como muito fracos, como “galinhas mortas”, derrotarem os bichos papões, os considerados
grandões pela quantidade de adeptos e, sobretudo, pela fartura de dinheiro para
contratar os jogadores mais habilidosos e eficazes. Por isso, não faço
prognósticos. Limito-me a dar palpites, o que é muito diferente. Ninguém pode
prever, portanto, com um mínimo de certeza, se a Seleção Brasileira galgará,
até com certa tranqüilidade, o terceiro degrau, representado pela Seleção de
Camarões, dessa escada de sete, ou se tropeçará e se esborrachará pateticamente
no chão. Tomara que suba...
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.
O jogo Croácia e Camarões de hoje, pelo menos no segundo tempo que vi, mostrou uma equipe africana patética, com jogador dando cotovelada nas costas do adversário fora do lance, brigando entre si, levando quatro gols e ainda assim, com dez jogadores, deixando a retaguarda desguarnecida para tentar o gol de honra. Certo que você não sabia de nada disso quando fez seu texto, e que agora é razoavelmente fácil imaginar que Camarões não oferecerá grande ameaça. Observei que eles têm força, velocidade, juventude e muita coragem, uma coragem até irresponsável. Mas vamos aguardar para ver.
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