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* Por
Marcelo Sguassábia
Será mais ou menos como a mão de um gorila esmagando uma pulga.
Avisar a população significa criar um pânico inútil, todos da Comissão B7 somos
unânimes neste ponto. Se a Terra não sairá de sua órbita e a colisão é
inevitável, é melhor que os sete bilhões de futuros cadáveres permaneçam
ignorantes e felizes até o momento final. Não há o menor sentido em sofrer por
antecipação.
Alguns poucos
objetaram, argumentando sobre o direito de cada um em tomar suas próprias
decisões nesse meio tempo, já que faltam ainda 16 anos para o fim de tudo. O
livre arbítrio, no caso, seria necessariamente egoísta e insano. Um “salve-se
quem puder” de proporções mundiais faria com que o caos reinante acabasse com
tudo antes que o planeta se espatifasse. O apocalipse próximo justificaria
qualquer comportamento antiético ou ato criminoso, sugar a intensidade de cada
segundo da forma mais devassa e reprovável se tornaria a única lei possível.
Não há o que fazer,
toda tentativa de defesa resultará inócua. Somado o arsenal bélico disponível,
e contando que seja viável dispará-lo simultaneamente, provocaríamos um reles
arranhãozinho na couraça do monstrengo. A destruição da raça humana seria tão
instantânea que não haveria tempo nem para a dor, nem para a consciência do
ocorrido. Melhor assim do que acabar em fome, tsunami, peste ou guerra, onde o
extermínio é gradual.
A coisa (assim a
chamamos até o momento) é aproximadamente 2,5 vezes maior que o sistema solar
inteiro, e sua rota não admite probabilidade de desvio. Líderes religiosos do
B7 chegaram a propor que a notícia seja divulgada considerando-se a catástrofe
como uma possibilidade, não como certeza. Esse disfarce da verdade certamente
mobilizará multidões de todos os países para uma grande corrente ecumênica de
orações, rogando à mão divina um safanão no assassino.
Já alguns cientistas
russos consideram seriamente a aplicação de telecinésia coletiva, ou seja, a
suposta capacidade que temos de mover objetos pela força do pensamento. Outros
sugerem uma tentativa mais privê, reunindo um seleto grupo de notáveis
paranormais para a tentativa, liderados pelo hoje quase septuagenário Uri
Geller. Qualquer que seja a modalidade adotada para a performance redentora, a
Coca-Cola já garantiu antecipadamente a quota principal de patrocínio.
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Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
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