Tribunal digital
* Por
Alexandre Vicente
Todos somos heróis. Sim. De alguma forma, todos
somos. Basta ver nos posts do Facebook e nos blogs. Todos queremos mostrar o
que nos faz diferente. E somos todos diferentes, do contrário seríamos a burra
unanimidade rodriguiana. Neste momento que cito Nelson, me sinto igual a
muitos, mas não vou me abster de fazê-lo só para agradar.
Quando publicamos nos blogs queremos mostrar o que
nos faz diferente e o que nos torna atraente. Ressalvo, não uma atração sexual;
mas a atração de ser uma pessoa interessante. Citando Luigi Spreafico: “Eu
escrevo prá me mostrar”.
Da mesma forma é isso que fazemos nos Orkuts e
Facebooks da vida. Postamos para nos mostrar. Alguns se excedem, mas quem tem a
medida exata? Podemos errar na mão algumas vezes, mas em tempos em que todos
querem ser celebridade, porque não ser uma pelo menos no seu círculo de amigos?
Será que isso é falta de humildade ou tem uma
explicação psico-redentora para este crime comportamental? É certo que existem
os níveis de fobia sócio-digitais. Uns não se expõe por nada. Você digita o
nome da pessoa no Google e não encontra nem uma pista. Por outro lado, há
aqueles que se expõe demais. Numa pesquisa semelhante você encontra logo umas três dezenas de
páginas com foto, Orkut, Facebook, Twitter, Linkedin, G+, email de contato etc.
Tem aqueles que postam tudo no Facebook, desde a
hora em que acordam, até a hora em que vão dormir. Estes não usam o
ultrapassado diário. Se precisarem lembrar o que fizeram em determinado dia, é
só entrar no FB e ver o que tá lá registrado.
“Excelência, conforme mostram os autos, a página do
Facebook de minha cliente comprova que ela postou essa imagem chamada
“Esperando o 744” às 14h34min por celular, quando estava em Cascadura. Sendo
assim ela não poderia ter cometido o homicídio a ela imputado neste mesmo
horário, no Rio Comprido.”
E aí? Vale como prova legal? Com a palavra os
doutores em Direito Processual.
É possível mapear a rotina de muita gente e daí
perceber se esta pessoa é ou não uma candidata a um convite para jantar com os
seus pais ou seus filhos.
“Amor. Queria convidar fulano para jantar aqui em
casa, mas ele é Flamengo doente. E meu pai… bom, meu pai você sabe como é, né?
É o Vasco na terra e Deus no céu. É melhor deixar para outro dia.”
Outra cilada é quando você começa a planejar uma
viagem de lua de mel para a Europa ou qualquer outro lugar. E aí cai na
besteira de postar:
“Londres, aí vou eu!”
Alguém curte e comenta:
“Nós também vamos, que tal irmos no mesmo período?
Já estou com toda a programação feita.”
O pior é quando você posta uma opinião sobre
determinado assunto e ganha o seguinte comentário:
“Não esperava isso de você.”
Putz… Você tava quietinho, esqueceu que tinha um
amigo que era contra determinado tema e posta lá o que você acha, sem ninguém
ter te perguntado nada.
Imaginem se em 1989, você tivesse postado várias
propagandas pela eleição do Collor? Com que cara você ia sair nas ruas? Pintada
é que não era!
Não tô aqui falando para você se omitir, mas não dá
mais para pôr a mão no fogo por outras pessoas. Principalmente na política.
Post é coisa séria. E blog também.
Conforme dirá a lei: tudo que você disser, postar ou
blogar pode e deverá ser usado contra você num tribunal (de bar, obviamente).
* Escritor
carioca
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