segunda-feira, 30 de abril de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos, um mês e dois dias de existência.


Leia nesta edição:


Editorial – Efeito manada.

Coluna Em Verso e Prosa – Núbia Araújo Nonato do Amaral, poema, “Parto.

Coluna Lira de Sete Cordas – Talis Andrade, poema, “Foto oficial”.

Coluna Direto do Arquivo – Michelle Rachel, crônica, Amigos, amigos, bonecas à parte”.

Coluna Porta AbertaNatércia Freire, poema, O sonho sem destino”.

Coluna Porta Aberta – Rosa Pena, poema, “Inteiro”.


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DESAFIO E PROPOSTA

Meu desafio está atrelado à proposta que tenho a fazer. Explico. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que quero conferir. Tenho um novo livro, dos mais oportunos para um ano como este, de Copa do Mundo de Futebol. Seu título é: “Copas ganhas e perdidas”. Trata-se de um retrospecto de mundiais disputados pelo Brasil (que disputou todos, por sinal), mas não sob o enfoque do profissional de imprensa que sou, mas de um torcedor. É um livro simultaneamente autobiográfico e histórico, que relata como e onde acompanhei cada Copa do Mundo, de 1950 a 2014, da minha infância até meus atuais 75 anos de idade. Meu desafio é motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, apenas pela internet, e sem que eu tenha que bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa até que consiga êxito, todos os dias, sem limite de tempo. Basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. A proposta e o desafio estão lançados. Acredito que serei bem sucedido!!!

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CITAÇÃO DO DIA:


Sem inspiração 

Não devemos esperar pela inspiração para começar qualquer coisa. A ação sempre gera inspiração. A inspiração quase nunca gera ação.

(Frank Tibolt).




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Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com. Twitter: @bondaczuk. As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Editorial - Efeito manada


Efeito manada


Há pessoas, diria que a imensa maioria, que têm obsessão pela “modernidade”, embora quando questionadas, nem mesmo saibam definir com razoável precisão o que entendem por “moderno” e, em contraposição, por arcaico, antigo, ultrapassado e, portanto, descartável. Já tratei, por aqui, deste tema, mas considero oportuno reiterá-lo, agora sob outro enfoque.

Os que agem dessa forma não têm o menor senso crítico e gostam de navegar na onda do que está em moda. Consideram tudo o que tenha, por exemplo, três anos (se tanto) de produção como imprestável, substituível, em suma, velho (em sentido pejorativo). Esquecem-se que o que é moderno hoje, será ultrapassado amanhã e que nem sempre conseguirão acompanhar (por falta de recursos financeiros, na maior parte das vezes) a onda de momento.

Quando se trata de tecnologia, essa postura até que é compreensível e, diria, elogiável. Se os cientistas e a indústria desenvolveram máquinas que facilitem nossas vidas, e se tivermos dinheiro para a sua aquisição, por que não usufruir desses avanços? As boas novidades, nesse sentido, serão, obviamente, sempre e sempre bem-vindas.

Quando se trata de estilo de se vestir, de se pentear, de se maquiar etc., ou seja, de moda, a coisa já começa a pegar um pouco. Nem tudo o que outras pessoas gostam e usam é, automaticamente, adequado ao meu estilo de vida. Mas... ainda passa.

Todavia, quando se trata de artes - e não importa se música, pintura, escultura, literatura etc. – aí a coisa pega de vez. Descamba-se, não raro, para os modismos, passageiros e inúteis, que satisfazem os gostos de determinada pessoa e não, necessariamente, os nossos. Em política, isso é muitíssimo pior. Chega a ser trágico.

Seguir esse tipo de tendência, sem senso crítico e sem justificativas, apenas porque “todo mundo” gosta disso ou daquilo, é o que denomino de “efeito manada”. É seguir, bovinamente, algum pretenso líder (que pode até ser o suprassumo da burrice e do mau gosto, quando não o corrupto dos corruptos), apenas para não ser acusado de “antiquado” ou de mal informado. Esse comportamento reflete absoluta falta de personalidade. E por que ser a retaguarda do bando, quando se pode ser cabeça?

Não há obra de arte moderna e antiga. O que há são obras boas e obras ruins. O critério de avaliação correto, portanto, não é o temporal, de quando determinada obra foi produzida, mas o qualitativo, se ela é boa ou ruim. Se adotarmos a maneira de avaliar em voga, estaremos cometendo uma baita sacanagem com artistas de um passado remoto (e não raro, até recente), que criaram não para o tempo e o esquecimento, mas para a imortalidade.

Não podemos nos deixar induzir por modismos, como se estes pudessem ou devessem determinar nossos gostos. Vejo, hoje em dia, muitos pseudo apreciadores de pintura, por exemplo, torcerem o nariz para determinados pintores, por serem figurativistas.

Na sua concepção, eles deveriam ser surrealistas, ou cubistas, ou seja lá o raio que lhes queiram pespegar, e se não seguirem essas tendências, as obras serão imediatamente discriminadas e consideradas “coisas menores”, mesmo que haja genialidade, perfeição formal, talento e paixão nessas pinturas.

A mesma coisa ocorre com a poesia. Já tive livro recusado por uma editora, assim liminarmente, sem que o responsável pela seleção das obras a publicar sequer lesse, simplesmente porque era de sonetos. “Escreva coisas ‘modernas’ que eu publico”., foi a resposta que ouvi. Saí irritadíssimo não por causa da recusa, mas pela razão apontada para tal.

Também componho poemas concretistas, surreais, versos brancos, cheios de metáforas (modéstia a parte, criativas e originais) e3 o meu leitor assíduo é testemunha. Mas não eram eles que eu queria publicar. Queria que meu público (que felizmente não é pequeno) conhecesse meus sonetos, considerados de excelente qualidade por vários professores de literatura que os leram. Frustrei-me.

Quem determinou que apenas os textos considerados “modernos” são válidos e bons? Que autoridade esse alguém tem para isso? Será que a verdade passou a ter donos e esqueceram de nos avisar? Como se vê, não são apenas as pessoas ingênuas que se deixam levar por modismos. Há muitos pseudointelectuais (e até intelectuais genuínos) que caem nessa esparrela. Como é perverso, com os artistas, esse tal de efeito manada!!!

Por que não seguir o lema da cidade de São Paulo – “non ducor, duco”, ou seja, não sou conduzido, conduzo – desenvolvendo saudável espírito crítico e incentivando o máximo de pessoas a fazerem o mesmo? Não sou, obviamente, contrário a mudanças. Mas não quero mudar na marra, à minha revelia, por causa de tendências, modas e, pior, modismos.

Antigo, na verdade, é arrotar uma pretensa modernidade, sem sequer saber definir do que se trata. Por isso, recorro, mais uma vez, a Carlos Drummond de Andrade – que já citei um milhão de vezes ao tratar desse tema, mas que nunca é demais citar novamente. Em um verso magistral (como tudo o que escreveu), o sábio poeta de Itabira deu a entender que sua pretensão nunca foi a de ser moderno. Foi a de ser eterno. A minha também…


Boa leitura!

O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Parto - Núbia Araújo Nonato do Amaral


Parto

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

O parto de uma poesia é amargo. 
A cada palavra encaixada, rimada 
ou amarrada, decreta a despedida.
Uma rima lacra o verso e a poesia
rasga o ventre.
O poeta não se refaz, como uma mulher
exigida, concebe mais uma vez.

* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário.

Foto oficial - Talis Andrade


Foto oficial


* Por Talis Andrade


Vou (vi)vendo
o corpo partido
dividido entre
o verdadeiro
e o ilusório.

O corpo contido
curtido
em um frio mortório

O rosto impassível
(pre)visível
revelado em uma foto
três por quatro

Indefectível
retrato posto
em tudo que seja
arquivo morto


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).


Amigos, amigos, bonecas à parte - Michelle Rachel


Amigos, amigos, bonecas à parte


* Por Michelle Rachel



Chegou o sabadão. O telefone toca repetidas vezes, mas Solange não quer atender. A cabeça dói, os olhos lacrimejam, um horror. De tanto trim-trim na cabeça e gritos da mãe, resolve atender o impaciente:
- Aaaalô – com a voz mais slow motion já ouvida na Terra.
- Sola, tô passando aí em quinze minutos! Tututututututututu – lá se foi a ligação.
- Mas...

Não houve tempo de terminar a frase. Ou melhor, de começá-la. Ah, pouco importava quem quer que fosse a pessoa do outro lado ou o que queria; o mau-humor estava reinando no quarto de Solange. De pijamas às cinco e vinte e cinco da tarde, que não tirara o dia inteiro, a moçoila ajeita as pantufas nos pés e coça o bumbum. A cabeça lateja e lateja.
- Hoje não tô pra ninguém, cama...

Alguém entra arrombando a porta.
- Sola, Solinha do meu coração...!
Anely enforca Solange na tentativa de dar-lhe um abraço. Solange fica sem ar e se joga de cabeça na poltroninha rosa próxima à penteadeira. As duas caem no carpete e quase se machucam. A cabeça de Solange, a essas horas, não apenas latejava, mas dóia de verdade. O “galo” cantou na testa da garota.
- Que diabos! – Solange balança os braços com raiva.
- Eita lelê...que bicho te mordeu, mulher?!
- Cala essa boca, Anely... já não me bastam meus problemas e você invade o meu quarto, me derruba e ainda fica gritando na minha orelha? Tenha dó!

Anely faz um bico e abaixa a cabeça, com dois galos enormes na testa.
- Me desculpa...é a euforia de sábado. É normal, você sabe...
- Ó, vou te desculpar desta vez, mas que minha porta nunca mais seja arrombada deste jeito. Tá louco, viu! Não sei porquê você é assim. Hoje estou com uma baita dor de cabeça, não vi a cor do sol ainda e você me apronta. Olha este galo aqui, tá vendo? Agora mesmo é que não saio na rua! Uiii !
- Snif, snif...sniiiiiiif...

De rabo-de-olho, Solange percebe que a amiga soluça baixinho, cabisbaixa. Senta na quina da cama, com as mãos entre os joelhos.
- Vim te buscar para ir ao cinema... hoje é a estréia do filme do Grad Fitt com a Anfelita Jallie. Ia pagar sua entrada porque hoje é o seu ani...
- Não termina, não termina!! Pelo amor de Deus, não terminaaaa...
- Mas hoje é o seu aniversário!
- Mandei não terminar! Ai, minha cabeça!
- Dia de aniversário deve ser um dia de festa, não dia de vestir este pijama horroroso aí.
- Veja lá como fala do meu pijama!
- E é dia de pentear os cabelos!
-Arrrgh...
- E também é dia de escovar os dentes como nunca! Que bafo, Jesus!
- Vem aqui, agora – Solange tenta agarrar a cabeça de Anely, que sai correndo.

As duas começam a dar voltas em torno da poltrona.
- Peraí. Peraíiii.
- Você me tira do sério!
- Vamos conversar.
- Depois que você levar o que merece!!

Anely pára. Solange bufa e seca a testa molhada de suor.
- Amiga, hoje é seu aniversário. Uma data linda, 18 anos de existência.
- Este é o problema!
- Já fiz 19 e estou super feliz!
- Mas eu estou triste hoje...18 anos! Pra quê?
- Vamos lá...quero te dar os parabéns. Me dá um abraço,vai.
- Não vou conseguir, você está muito gorda, Anely.
- Olha, não seja ingrata. São 19 anos de excesso, viu, excesso de gostosura.

As duas ficam de braços dados, tentando se abraçar sobre a barriguinha saliente de Anely.
O celular de Solange toca.
- Quem? A Anely? Tá aqui sim. Tá. Fala com ela.
- É ela. Se vamos? Vamos, sim. De pijaminha da She-ha? Quiá,quiá, pode ser.
- O que foi? Vamos aonde?
- Se troca pra gente sair.
- Não quero deixar este quarto hoje. 18 anos de ...
- Blá,blá,blá. Onde ficam suas blusinhas? Nesta porta?
- Nãaaaaao abr...!!

Bum! Cataploft!
- Quem mandou mexer aí??
- De onde você tirou tantos brinquedos??
- São meus...desde que nasci. Há 18 anos ganhava meu primeiro patinho de borracha.
- Meu Deus do céu! Estou perplexa com você! Patinho de borracha! Me parece que aqui há mais de quarenta bonecas...quase todas intactas...olha ali, uma que nem foi tirada da caixa!
- Sempre tive de tudo. Mais do que precisava. Mas o que quero mesmo, isto não tenho.

Anely pega no colo uma boneca-bebê.
- Mas o que você não tem, menina?
- Amigos sinceros.
- Eu sou sincera.
- Mas queria mais amigos, amigas...
- Não diga isso. Todo mundo te ama.
- Não acredito. Hoje ninguém lembrou do meu aniversário.
- Ah...então é isso? Você está chateada porque se sente abandonada, sei.
- Não é isso...
- Vem cá!
Anely puxa a amiga pelo braço, a pantufa fica presa ao tapete e lá se vão as duas para o chão novamente. Mesmo assim, com muita pressa, Solange é puxada pelos cotovelos até a porta.
- Espera! Vou tropeçar de novo! Meu celular está tocando!
- Deixa isso pra lá e vem aqui. Cuidado com os degraus.

A casa estava silenciosa. Tudo arrumadinho na sala e na varanda. Solange fica sem entender bolhufas.
- Siga-me – Anely fala com um ar muito sério, jamais visto por Solange.
- Estou assustada com seu jeito.
- Shhhhhh! Silêncio nesta hora – sussurra reclamando.

As duas caminhavam em direção à cozinha andando com a ponta dos pés.
- Acho que você enlouqueceu aos 19 anos, Anely...não estou entendendo nada! Raios!
- Gire esta maçaneta e abre a porta devagarinho,vai! Anda!

Solange fica ressabiada. Mas resolve abrir a porta da cozinha conforme Anely dissera.
- Surpresa!!!!!!!!
Amigos, muitos amigos. Mãe, pai, vizinhos fofoqueiros (não dava para perder a festa surpresa da Solange, né). Até cachorro e gato formavam um coro a cantar “Parabéns pra você” à moçoila do começo da história. Solange ria e chorava ao mesmo tempo, queria abraçar a todos.
- Fizemos esta surpresa porque você é muito especial para nós, Sola.
- Nunca soubemos expressar tantas alegrias que você nos deu, Solzinha.
- Que Deus continue te fazendo esta pessoa tão gentil.
- Ah...não sei dizer nada tão chique...vem cá e me dá um abraço, Solange!

Foi ouvindo estas palavras que a aniversariante terminou o seu dia. Acabou adormecendo ao lado da amiga no sofá da sala. De pantufa, descabelada, sem escovar os dentes sujos de bolo de chocolate e brigadeiro. Estava feliz. Descobriu aos 18 anos que amigos são assim mesmo: muitas vezes não dão as caras, te deixam de lado, mas jamais te esquecem. Cortam os cabelos, pôem Botox, ficam velhos e rechonchudos, mas jamais te esquecem. E mais: são essenciais para a vida de qualquer um, nem que o primeiro seja um patinho amarelo de borracha.


* Jornalista e professora de Inglês na Faculdade de Campo Limpo Paulista desde 2003






O sonho sem destino - Natércia Freire


O sonho sem destino


* Por Natércia Freire


Se os caminhos são breves
e os dias tão compridos
e as tuas mãos mais leves
que a espuma dos vestidos;

se é de ti que me ondeia
uma brisa sutil…
E a vaga- diz: — Sereia!
E o sonho diz:— Abril!

Se cresces e dominas
os campos que acalento,
e inundas as colinas
de fontes que eu invento;

se tens na luz dos olhos
o misterioso apelo
das cidades de fogo,
das cidades de gelo;

se podem bem guardar
na tua mão fechada
o meu altivo Tudo
e o meu imenso Nada;

se cabe nos meus braços
a bruma que tu és,
e em algas e sargaços
te abraço nas marés;

se, puro, na presença
da nossa grande Casa,
pões na voz do horizonte
um lume de asa e brasa.

Não sei porque te sonho
na sombra matinal,
e ao meu lado te vejo,
real e irreal.

Sabeis — adaga fria,
que ao meu peito cintilas
onde se oculta o dia
das aragens tranquilas?

Se tudo sabes, mata
com dedos de oiro fino,
ou com gume de prata,
o sonho sem destino!

(De «Azul de Sete Pedras»)


* Poetisa portuguesa.

Inteiro - Rosa Pena


Inteiro


* Por Rosa Pena


O fruto eu saboreio

em metades. 
Um planeta vejo

por cidades. 
Na Bíblia

procuro verdades. 
Quando sinto

saudades?
Quero você inteiro


* Escritora e poetisa.

domingo, 29 de abril de 2018

Índice


Literário: Um blog que pensa


(Espaço dedicado ao Jornalismo Literário e à Literatura)


LINHA DO TEMPO: Doze anos, um mês e um dia de existência.


Leia nesta edição:

Editorial – Caudaloso… e genial.

Coluna Ladeira da Memória – Pedro J. Bondaczuk, poema, “Sol, som, só”..

Coluna Direto do Arquivo – Solange Sólon Borges, crônica, “Discrepâncias do mercado editorial.

Coluna Clássicos – Afrânio Peixoto, trecho de ensaio, “Sorriso da sociedade”

Coluna Porta Aberta – José Ribamar Bessa Freire, artigo, “As línguas faladas no Acampamento Terra Livre’”.

Coluna Porta Aberta – João Alexandre Sartorelli, poema, “Pássaros”.


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DESAFIO E PROPOSTA

Meu desafio está atrelado à proposta que tenho a fazer. Explico. Diz-se que a internet dá visibilidade a escritores e facilita negócios. É isso o que quero conferir. Tenho um novo livro, dos mais oportunos para um ano como este, de Copa do Mundo de Futebol. Seu título é: “Copas ganhas e perdidas”. Trata-se de um retrospecto de mundiais disputados pelo Brasil (que disputou todos, por sinal), mas não sob o enfoque do profissional de imprensa que sou, mas de um torcedor. É um livro simultaneamente autobiográfico e histórico, que relata como e onde acompanhei cada Copa do Mundo, de 1950 a 2014, da minha infância até meus atuais 75 anos de idade. Meu desafio é motivar alguma editora a publicá-lo, sem que eu precise ir até ela e nem tenha que contar com algum padrinho, apenas pela internet, e sem que eu tenha que bancar a edição (já que não tenho recursos para tal). Insistirei nesta tentativa até que consiga êxito, todos os dias, sem limite de tempo. Basta que a eventual editora interessada (e espero que alguma se interesse, pois o produto é de qualidade) entre em contato comigo no inbox do Facebook ou pelo e-mail pedrojbk@gmail.com. A proposta e o desafio estão lançados. Acredito que serei bem sucedido!!!

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CITAÇÃO DO DIA:

Limite das realizações

O único limite para nossas realizações de amanhã  são nossas dúvidas de hoje; vamos em frente, com coragem e fé.

(Franklin D. Roosevelt)



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Obs.: Se você for amante de Literatura, gostar de escrever, estiver à procura de um espaço para mostrar seus textos e quiser participar deste espaço, encaminhe-nos suas produções (crônicas, poemas, contos, ensaios etc.). O endereço do editor do Literário é: pedrojbk@gmail.com.Twitter: @bondaczuk.As portas sempre estarão abertas para a sua participação.

Editorial - Caudaloso... e genial


Caudaloso... e genial


Há escritores cuja biografia é muito mais interessante do que os livros que escreveram. Estão mais para personagens do que para autores. Em contrapartida, há os sumamente discretos, dos quais nunca o público chega a saber como eram e, principalmente, como viveram, mas cujos livros se tornam clássicos e são lidos e discutidos muitos anos após sua morte, não raro, até séculos. E há, ainda, um terceiro grupo, o dos cujas vidas e cujas obras se igualam em importância e interesse. Um deles, que se enquadra, a caráter, nesta última categoria, é o chileno Roberto Bolaño Ávalos, ou, somente, Roberto Bolaño, que é como ficou conhecido.

Por que o classifico de “caudaloso”, no título destas considerações? Aviso que não se trata de nenhuma caracterização jocosa ou pejorativa e, portanto, negativa. Longe disso. Uso essa expressão por causa da sua fantástica produtividade.

Bolaño morreu precocemente, pouco mais de dois meses após completar 50 anos de idade. Um “menino”, portanto, em se tratando de escritor, cuja maturidade, via de regra, ocorre exatamente nesse período de vida em que morreu. Começou a escrever, e publicar, apenas nos anos 90 do século passado. Legou-nos, todavia, 21 livros, nos mais variados gêneros literários, quer de ficção, quer de não-ficção, como romances, novelas, contos, poesias e ensaios. E todos muito bons.

Justificam-se, pois, as expressões “caudaloso” e “genial”. Há um quase consenso entre os escritores chilenos de que Roberto Bolaño foi (e é, por sua obra permanece mais viva do que nunca) o mais importante e representativo autor da sua geração. O engraçado é que, na sua infância, ninguém diria que alcançaria esse patamar. No conceito dos que conviveram com ele nesse período, tinha tudo para ser fracassado.

Na escola, por exemplo, foi vítima constante dessa maldita prática, que é o tal do “bulling”. Magérrimo, ansioso e disléxico, era o alvo preferido dos maus-tratos e das gozações dos colegas. Embora não se tratasse de nenhum aluno brilhante, tinha característica que, certamente, determinou o seu destino: era um leitor compulsivo e voraz.

Em 1968, foi morar com os pais na Cidade do México. Tinha, na ocasião, apenas 15 anos. Pouco depois, largou os estudos para atuar como jornalista. Nessa ocasião, ligou-se a grupos de esquerda e tornou-se assíduo militante trotskista. Ao retornar ao Chile, em 1973, justo na época do golpe militar comandado pelo general Augusto Pinochet, que depôs o socialista Salvador Allende, teve uma experiência impactante, que marcou a sua personalidade e à qual ser referiu posteriormente em vários dos seus livros: foi preso, acusado de ser terrorista. É verdade que não permaneceu muito tempo na prisão. Poderia ter sido um dos tantos “desaparecidos”, cujos corpos jamais foram encontrados. Mas, para sorte sua, ficou apenas oito dias no cárcere.

Começou, a partir daí, sua fase de “andarilho”, ao partir para o exílio voluntário, que caracterizou praticamente toda a sua juventude. Esteve, por mais tempo, em El Salvador (onde se juntou à guerrilha da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional), no México, na França e na Espanha, entre outros tantos lugares. Levava, então, uma vida boêmia, desregrada, sem nunca pensar no amanhã. Aliás, fez isso até morrer. Voltou ao Chile apenas uma única vez, após seu exílio voluntário, e ficou por poucos dias na terra natal.

Roberto Bolaño sempre se considerou poeta, embora tenha feito sucesso, mesmo, com ficção. Publicou somente três livros de poesia, dois dos quais no ano 2000 e o terceiro publicado postumamente, em 2007, quatro anos após sua morte (ocorrida em 15 de julho de 2003). Estes foram, respectivamente: “Los perros românticos”, “Três” e “La universidad desconocida”.

Em ficção, porém, alinhou uma sucessão de best-sellers que culminou com o instigante romance “2666” (lançado no Brasil pela editora Companhia das Letras, alentado volume, de quase mil páginas, que terminei de ler e que me deixou a sensação de inacabado. Morreu antes da sua publicação). Seus principais sucessos (todos com versão em português), são: “Noturno do Chile”, “Amuleto”, “Estrela distante”, “Os detetives selvagens” (com o qual ganhou o Prêmio Rômulo Gallegos), “A pista de gelo”, “Antuérpia” e o já citado “2666”.

Apesar de, a partir dos anos 90, ter publicado, em média, um livro por ano, foram descobertos novelas, contos, romances e textos esparsos entre seus papéis particulares, após a sua morte. É provável, portanto, que ainda tenhamos a oportunidade de ler muita coisa inédita de Bolaño nos próximos anos. Tomara que sim.

Minha intenção inicial era, apenas, a de tecer comentários em torno do intrigante romance “2666”, que acabei de ler, cuja história (na verdade histórias) ainda venho tentando digerir. O livro é dividido em cinco partes e dizem que a intenção inicial do autor era a de publicar cada uma separadamente. Outros, contudo, asseguram que foram publicadas em um só volume por decisão expressa do próprio Bolaño.

Ao cabo da leitura de suas quase mil páginas, restam-me muitas perguntas. O autor não revela, por exemplo, o autor (ou autores) da sucessão de assassinatos de mulheres em Santa Teresa (na verdade, Ciudad Juarez) e nem se o suspeito detido por esses crimes, que deixa implícito que era inocente, conseguiu ou não provar a inocência. Outra indagação é sobre a razão de haver intitulado o romance com esse número cabalístico, “2666”. Seria uma data? Seria a quantidade de vítimas do serial-killer (ou dos serials-killers)? O que seria? Não vi, em lugar algum, nexo entre o título do livro e seu enredo.

Mas, como ia dizendo, em vez de trazer à baila as impressões que seu romance me deixou, não resisti à tentação de escrever um pouco sobre a sua vida, tão interessante quanto a sua “caudalosa” e “genial” obra. Quanto ao livro, recomendo que vocês mesmos o leiam e se deliciem com uma literatura de primeiríssima qualidade, em termos de criatividade, estilo e correção de linguagem.

Boa leitura!

O Editor.


Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk