Soneto para o Raul
* Por
Alberto Cohen
Eu sou o destempero da panela,
o resto que sobrou por toda a tampa,
o lixo que se joga da janela,
o morto que levanta de sua campa.
Eu sou o esquecimento do passado,
a total incerteza do futuro,
a solidão que tem o boi capado
olhando as vacas por cima do muro.
De repente, quem sabe, nem existo,
sou, apenas, silêncio que anuncia
que o Cristo não chegou a ser um Cristo.
No agonizar cansado deste louco,
o muito não será mais do que o pouco,
e o grito é bem maior do que a alegria.
*
Poeta e escritor paraense
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