Três poemas
* Por Nei Duclós
Escrever sobre o
próprio ofício: às vezes, é preciso. Assim como é necessário inventar o olhar
sobre a própria literatura. Para que a diversidade do resultado inclua as
intenções da fonte. Para que, no acervo, o olhar conviva com a voz. E também
para que as falas venham acompanhadas de suas bandeiras, como pessoas da mesma
família ou camaradas do mesmo exército.
UM POEMA POR ANO
Um poema por ano
casa da solidão
ventos de sono
Árvores da infância
furando o coração
Na saliva, sangue
O tempo sendo jogado
fora do balão
Lastro de fome
Cada vez mais longe
a paisagem do amor
e seus rebanhos:
promessas que não se cumprem
pássaros que não voam
IDADE DA PÓLVORA
Tudo cabe
no paiol de imagens
o mágico, a lógica
a linguagem na flor
da idade
Nada cabe nesta sala
nosso amor, nossa fábrica
Para viver
precisa baixar o vale
como os rios sem nome
e a fome das águias
A solidão é de quem
ataca. a tocaia na mão
com um tacape
A escuridão é teu passo
possível autor
da claridade
LIMPAR O POEMA
Cortar o nó do poema
com força e delicadeza
para que todos aprendam
antes que a noite aconteça
Armá-lo como um guerreiro
dos pés até os dentes
e que saibam de longe
por quem está combatendo
Para que o povo o suspenda
nos ombros, como um eleito
e seja seu companheiro
na vitória e na falência
Que não esconda a violência
nem tenha voz de inocente
e seja um duro instrumento
com ataques de surpresa
Soltar o poema
e desvendar seu segredo
para que o mundo o receba
* Autor de três livros de poesia: “Outubro” (1975),
“No meio da rua” (1979) e “No mar, Veremos” (2001); e de um romance: “Universo
Baldio” (2004). Jornalista desde 1970 e bacharel em História. Trabalha
atualmente em Florianópolis, onde é editor-executivo de duas revistas.
Sou autor de 7 livros de poesia. Além desses, lancei Partimos de Manhã (IEL-Corag), impresso, em 2012, e os ebooks Arraso Poemas de Amor (2012), Cálida Palavra e Pampabismo& Enigminas: Conversos (edições do Autor), em 2013.
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