Maria Antonieta: minha simpatia pela rainha difamada
* Por
Evelyne Furtado
Tenho uma enorme
simpatia por Maria Antonieta, a última rainha da França. Porém, esse sentimento
nasceu muito depois que deixei os bancos da escola, uma vez que os livros de
história, pelo menos os do meu tempo, tratavam-na pessimamente. Que horror
aquela rainha má mandando o povo, que passava fome, comer brioche! Além de
déspota, debochada!
Assim era ensinado no
colégio. Vim conhecer melhor a vida de Antonia (seu nome original) há pouco
tempo e desde então nutro carinho, piedade e admiração por sua majestade.
Antes me apaixonei pela
Aldeia da Rainha, no entorno de Versalhes. É tão lindo, o lugar, que a mim
tocou muito mais do que o próprio Castelo, inegavelmente belo. Percorri
emocionada a tal fazendinha onde Antonieta brincava de camponesa e onde ainda
hoje os guias difamam a coitada, que não escapou das más línguas nem depois de
morta.
A partir dessa visita
fui me interessando mais pela Rainha. Na livraria encontrei "Versalhes, O
Refúgio da Última Rainha", de Kathryn Davis, um livro que trata da vida de
Antonieta na França, em narrativa delicada e tocante.
Depois fui às
biografias e Evelyne Lever, historiadora francesa deu-me tudo que faltava para
que eu me envolvesse a ponto de torcer pela fuga da família real, forjada pelo
Conde Axel (pretenso amante da rainha), para se salvar da prisão e da
guilhotina. A sensação é semelhante a torcer pelo time do coração durante a
reprise de um jogo no qual sabemos este foi derrotado. De qualquer maneira, fui
solidária com a triste rainha e sua família até o fim.
Antonia saiu da
Áustria, ainda menina, para o casamento com o futuro rei da França. Deixou mãe,
irmãos, sua "casa" e foi morar com estranhos.
Que material para a
psicanálise, hem? Quanta mágoa ela não devia sentir daquela mãe autoritária, a
quem nunca mais viu, mas que continuou a manipulá-la por meio de cartas
enquanto viveu?
E o casamento de
Antonia e Luis? Pelo que sabemos dignos de pena quanto à ausência de romantismo
e sex appeal. Todavia, pareciam muitos unidos. Havia um amor quase de irmãos
entre eles.
De outro lado, não
existe confirmação do envolvimento amoroso da rainha com o conde sueco, porém
acredito que era bastante compreensível a aproximação dos dois, diante do total
desinteresse do rei pelas coisas do coração (e do corpo).
Das minhas leituras
restou a conclusão de que rei e rainha não estavam preparados quando da
coroação e pagaram caro por essa precipitação, que não foi da vontade do casal
real. A morte do avô levou um Luís XVI tímido e despreparado ao trono da
França.
Na verdade eu simpatizo
com os dois, mas faltava ao rei a personalidade vibrante que sobrava na rainha.
Ambos sofreram muito. A invasão de Versalhes ocorreu logo após a morte do
delfim, filho tão aguardado, quanto amado, mas eles suportaram tudo com
dignidade. De acordo com os historiadores que agora resgatam a verdade, rei e
rainha aceitaram com resignação as últimas humilhações e a tragédia final.
Enfrentaram julgamentos e condenações justas e injustas, foram submetidas a
penas cruéis e a família foi separada.
A Maria Antonieta foi
impingida a pior das calúnias: acusaram-na de atos libidinosos com o filho.
Dessa acusação ela foi absolvida, das outras não. A rainha antes de ser
guilhotinada, sofreu tudo que uma mulher poderia suportar. Perdeu o contato com
a família, sofreu hemorragias na pequena cela que a abrigava sem direito ao mínimo
cuidado, foi tratada como um animal, porém foi aí que ela revelou a face maior
do seu caráter: a rainha foi humilde e digna na dor.
Longe de mim discutir a
história aqui. Apenas gostei de descobrir a humanidade por trás desses
personagens históricos e adorei ver no cinema a Maria Antonieta pop, quase
atual, mas, sobretudo cheia de vida, de Sofia Coppola. As cores, a música e a
alegria do filme fizeram-me muito bem. E foi com gratidão que vi os créditos
subirem na bela cena da saída do casal real de Versalhes. A diretora poupou à
rainha e ao público sofrer mais uma vez com a visão do calvário.
* Poetisa
e cronista de Natal/RN
Como os livros de História nos colocam longe de reis e rainhas que viram gente no cinema. Viva a sétima arte. E o seu texto de reconhecimento.
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