O segredo
da cebola
* Por Edir Araujo
Muitos
ignoram que - para nós, homens - não há coisa melhor que a cebola. Saibam,
pois, que este tubérculo - tão desprezado por causar um tremendo mau hálito - é
um dos responsáveis pela consistência da seiva reprodutiva masculina. Se pensou
em porra, é isso mesmo... e jorrá-la A B U N D A... (
calma, eu ia dizer ABUNDANTEMENTE, em abundância ) é indício de
virilidade e sempre foi motivo de orgulho pra nós; machos.
Devemos
muito à milagrosa cebola. Permitam-me esculpir aqui um breve autorretrato no
que tange à minha masculinidade; durante os meus anos casadoiros, minha
ex-esposa, à mesa comigo no jantar, repreendia-me severamente quando
presenciava a minha gula por cebola. Coitadinha, tão inocente (diga-se, a
cebola) mas tão repelente.
- Comendo
cebola, ainda mais crua? Hoje não vai ter... pode ir tirando o cavalinho da
chuva. Assim dizia a pobre mulher, com as feições retorcidas. Mas eu a
perdoava por isso.
Esta rude e
inculta senhora não sabia que, nós homens, necessitamos tanto do selênio,
ricamente encontrado na cebola. Ignorava que a metade desse mineral tão
importante pra nós, está concentrado em nossos testículos e no duto seminal
adjacente à próstata; e que, ao expelirmos o sêmen expelimos também o selênio -
vai um atrás do outro. E precisamos repô-lo sem tardar... Além disso, é um
poderoso antioxidante, combate a hipertensão e mantêm baixas as taxas de
colesterol.
Mas vamos
focar no selênio, nosso principal benfeitor. Devemos sucumbir ante esta ácida
vilã, injustamente vilipendiada por seu sabor e hálito desagradáveis. Uma
vez que é essencial pra nós. Enquanto para nós a cebola é mel, pra elas
não é aconselhável, sobretudo se estiverem grávidas ou amamentando. Pois
sabe-se que um sério efeito colateral pode ser causado ao feto ou ao bebê, uma
vez que, transmitem através do leite materno, muitos desconfortos, sobretudo
cólicas terríveis.
Às vezes,
mesmo a contragosto, a dita senhora, suportava, mesmo resignada, o cheiro
- nojento e desagradável, dizia ela - da bendita cebola. Isso
porque o desejo falava mais alto e se me quisesse tinha que tolerar. Mas
ordenava, já despojada em nosso leito; “Vem, mas não me beije, por
favor...” Isso quando eu não tinha que chupar (epa! - não
deturpem) eu ia dizer chupar bala Halls (extraforte), para amenizar o
hálito amargo dela... (digo, da cebola).
Oh
Milagrosa e ao mesmo tempo maldita cebola! Por sua causa eu suportava tudo
isso, mas, em contrapartida, jorrava o meu suprimento de selênio "in
loco" com grande satisfação.
Oh! Machos,
façam como eu; não desprezem a cebola. Miserável para elas, muito
importante pra nós. Mastiguem e comam com prazer (ela e a cebola!), crua, nua,
se preferir cozida. Mas crua é melhor, aproveita-se mais os nutrientes. Eu
costumo comê-la ralada, misturada ao bife ou na omelete, pra disfarçar o gosto
amargo - gostaram da dica? E se acaso ela te mandar para trás - será que
entenderão? - podem bafejar à vontade o hálito salutar no cangote dela. É
que assim elas não sentirão tanto o cheiro da nossa amada cebola.
Então, já
repuseram suas cotas de selênio hoje? E Viva a nossa Cebola!
("Crônicas"
pág. 19 – 06 de maio de 1983).
* Edir Araujo é poeta e escritor, autor dos livros "A Passagem dos
Cometas" (romance psicológico),, "Gritos e Gemidos" (coletânea
de poemas, contos e resenhas), "Fulana" (romance psicológico,
inédito), "Afonso e Martha (crônicas de casal" (em construção).
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