Raciocínio lógico
* Por
Mateus Modesto
Para alguns é
precipitação. Para outros, rapidez de pensamento. A Palavra diz que é
estupidez. Aquele que responde antes de ouvir pode ser envergonhado ou tornar-se
um vencedor – neste caso, lembremos de gincanas televisivas. Mas se faz isso
não apenas com palavras, com ações também. Depende muito das circunstâncias.
Dona Maria, faxineira e
mãe de seis filhos, é daquelas mães que educam o filho à base da fivela. Não
que espanque ou torture suas crianças, mas com ela não tem meia conversa. Dizem
que é extremamente grosseira e louca, está fora dos padrões intelectuais de
educação impostos na atualidade. Sua ordem só se escuta uma única vez. O melhor
é obedecê-la. E os meninos sabem bem disso. Se está errada ou não, basta
analisar o número de adolescentes “perdidos” em seu bairro.
Rodolfo, o mais velho,
de 12 anos, conhece o poder da mão de sua mãe. Sua voz, quando brada,
estremece-o por completo. Não ousa desafiá-la. Respeita-a e a ama. É o filho
querido, mas isso não significa que tenha alguma regalia quando errado. O que é
comum, principalmente na escola. Ou melhor, fora comum.
Bela manhã de
quarta-feira. A escola, toda ornamentada, preparava-se para uma apresentação
dos estudantes, em comemoração ao Dia do Professor. Rodolfo era o organizador
de sua turma. Suou durante todo o mês de setembro, buscando uma qualidade tanto
na peça de teatro quanto no figurino dos colegas. O esforço resultou em uma
imensa salva de palmas e gritos de júbilo. E rendeu-lhe um comunicado para seus
pais, convidando-os para visitar a escola. Era tudo o que ele queria: seria sua
consagração.
Todo contente, subia a
última das três ladeiras do caminho para casa. Na semana foi repreendido por
brigar com um rapaz. E intimidado pela mãe para que não acontecesse novamente.
No mês anterior, uma confusão envolvendo seu nome deu-lhe como recompensa um
castigo de cinco dias, além das temidas chineladas. Hoje, redimido, esperava
por longos abraços e uma sobremesa individual: chocolates. Mas, para sua
infelicidade, sua mãe não estava de bom-humor.
Ainda pela manhã, seu
segundo filho, Rogério, discutiu com a professora e tomou uma pequena suspensão
de aulas. Dona Maria teve de ir até a escola ouvir a direção e levar o menino
para casa, para aplicar-lhe uma pisa – uma surra. E o mais novo, Romildo,
quebrara um pequeno adorno em casa – um vaso de flores de grande valor
sentimental. Desse modo, sua paciência esgotara-se.
Rodolfo foi entrando
sem cerimônia. Assoviando, dirigiu-se à cozinha. Encontrou sua mãe sentada na
cadeira, passando um sermão para os demais filhos. Todo orgulhoso, ele cortou a
conversa da mãe – um erro fatal – e emendou:
- A diretora quer ver a
senhora amanhã. – e abriu um sorriso.
- Para quê?
Antes que ele pudesse
responder, sua mãe levantou-se com um dos tamancos na mão e tratou de acertá-lo
ali mesmo. O pequeno garoto não tentou defender-se: apenas correu, largando o
convite no chão. Antes de sumir pela casa, não escapou da pontaria da mãe: no
meio das costas.
No papel não havia nada
dizendo o assunto. Passados alguns minutos, Rodolfo voltou, explicando, ao
longe, do que se tratava. Desajeitada, Dona Maria criticou-o:
- E por que não me
falou logo?
Ele apenas abaixou a
cabeça. Não ousou responder-lhe.
*
Jornalista
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