Lição de Anatomia
* Por Daniel Santos
Ainda hoje muito se ri quem
recorda as trapalhadas da prima Carla em criança, aí pelos seus quatro anos de
idade, quando pela primeira vez na vida viu por inteiro (e viu com olhar
criativo) o corpo de um homem nu.
Filha muito esperada de pais que
se casaram depois dos trinta anos, mereceu um enxoval de princesa, mas já nos
primeiros passos desfazia-se das camisolinhas bordadas para andar pela casa
apenas de calções leves.
Nas suas andanças, chegou ao
quintal e ali conheceu gato e cachorro que, previsível, passou a puxar pelo
rabo, embora mãe e avó advertissem “cuidado, não puxe pelo rabo que eles
mordem, menina”.
E foi assim que, numa de suas
primeiras lições de anatomia, Carla entendeu que a tal parte do corpo chamava-se
rabo e que o rabo situava-se na parte de trás dos corpos, se bem – estranhava –
faltasse rabo às pessoas.
Mas a intriga pouco durou. Ao
entrar correndo pelo quarto onde o pai, nu, vestia-se para sair, Carlinha viu
nele o que julgava inexistente nas pessoas. Olhos arregalados, saiu gritando
“meu pai tem o rabo na frente!”
* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de
"O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio
de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita"
(poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola"
(contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou
da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
Muito criativos, Carla e Daniel.
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