Gabo e Che
* Por
Emir Sader
A notícia mais
importante da sua vida não foi a dolorosa notícia de ontem, nem tampouco o
Premio Nobel de 1982, mas o lançamento de Cem Anos de Solidão, em 1967
O Gabo sempre gostava
de reiterar que, como jornalista – profissão que ele sempre reivindicou como a
sua – a maior frustração que ele teria seria não poder dar a notícia mais
importante da sua vida. Mas a verdade é que a notícia mais importante da sua vida
não foi a dolorosa notícia de ontem, nem tampouco o glorioso Premio Nobel de
1982, mas o lançamento de Cem Anos de Solidão, em 1967.
O século XX foi o
primeiro século em que a América Latina teve um protagonismo mundial. Iniciado,
politicamente, com o massacre dos mineiros na Escola de Santa Maria de Iquique,
em 1907 e, 3 anos mais tarde, com a Revolução Mexicana, se anunciava que seria
um século de revoluções e contrarrevoluções no continente. O marco definitivo
dessa trajetória viria com a Revolução Cubana de 1959.
Mas 1967 foi um ano
simbolicamente determinante para a história latino-americana e para sua
projeção mundial. É o ano da publicação da obra mais importante da nossa
literatura, Cem Anos de Solidão, mas também porque é o ano da morte do Che.
Uma, a maior obra prima
da literatura latino-americana, outro, o personagem cujo gesto o levou a ser a
imagem mais reproduzida no mundo.
Não há ninguém que
tenha lido Cem Anos de Solidão e que não se lembre das circunstâncias – onde,
quando, com quem, em que edição – leu pela primeira vez o livro. Como não há
ninguém que tenha vivido naquele não tão longínquo 1967, que não se lembre
quando, onde, com quem, soube da noticia dolorosamente certa da morte do Che.
O discurso do Gabo ao
receber o Nobel de Literatura é a mais notável reivindicação da América Latina.
Ali, ele afirma que, da mesma forma se reconhece ao nosso continente sua
criatividade, sua originalidade e sua criatividade nas artes, se deve deixar de
tentar impor-nos projetos políticos
desde fora, deixando-nos exercer, da mesma maneira, nos caminhos da nossa
história, essa criatividade, essa genialidade e essa originalidade, que nos
reconhecem no campo das artes.
* Sociólogo
e cientista político
Nenhum comentário:
Postar um comentário