Faça um favor a seus filhos e não os tenha
* Por
Fernando Yanmar Narciso
Pelo que vivem me
contando, creio que meus, nossos pais costumavam ser criados tal qual frangos
no terreiro. Desde que dessem a eles comida e educação, pouco se importavam com
as confusões que viessem a arrumar. Assim que fez quinze anos, o pai de minha primeira-
e última- namorada abriu a porta de casa, apontou o dedo e disse “Não tenho
mais obrigação de te sustentar. Vá tomar seu rumo!” Não tenho notícias dela há
anos... Há alguns anos, um amigo da internet me falou, e isso é sério, que
gostaria que seu filho tivesse nascido paralítico e abobado, pois assim ele não
precisaria se preocupar em criá-lo e cuidar dele, bastando só dar um banho de
esponja de vez em quando. Ora, nesse caso, ele devia ter comprado um bicho
empalhado ao invés de transar sem camisinha!
O mundo, tal como tem
sido estruturado ultimamente, é quase como se fosse a campanha mais efetiva de
esterilização em massa de todos os tempos. Por que minha geração precisou ter
uma infância tão boa? Chamem de nostalgia ou do que quiserem, mas as crianças
da minha geração aparentavam ser mais valorizadas. As opções eram infinitas
para mim, meus primos e amigos em meados da década de 1980 e início da década
de 90: Brinquedos, jogos de tabuleiro, videogames, brincadeiras de calçada,
revistas, livros e gibis, música, TV, gulodices... Enfim, o mundo era um lugar
perfeito para nós.
Mas por qual motivo os
adultos nos deram tantas coisas boas? Talvez a aposta no futuro. Alguns pais
acreditavam, ou ainda acreditam que, quando eles deixarem de caminhar sobre a Terra,
seus herdeiros assumirão o controle dessa pelota gigante feita de cera de
ouvido e farão um trabalho melhor que o da geração deles. E, só pra variar,
minha geração pôs tudo a perder... Basta ver o naipe dos pirralhos que pusemos
no mundo depois de nossos pais. Acredito na estranha teoria comportamental de
que, seja qual for a forma dos pais educarem e criarem os filhos, eles
crescerão para ser o extremo oposto deles.
Quer dizer, se seu pai
foi um alcoólatra e sua mãe o chifrava dentro de casa enquanto você estava
assistindo Castelo Rá-Tim-Bum e brincando com os bonequinhos falsificados dos
Power Rangers, seu destino é tornar-se o cidadão exemplar da casa. Por outro
lado, se eles foram pessoas íntegras, honestas, amorosas e sempre te deram tudo
do bom e do melhor, é provável que você ainda esteja vivendo na casa deles
depois dos 25. É necessário encontrar um meio-termo entre a rigidez e a
passividade e tentar impedir que os filhos tornem-se encostados ou
delinquentes.
O problema é: Qual pai
hoje tem tempo ou saco pra pensar nessas coisas? Numa sociedade onde são
raríssimos os filhos que não foram concebidos de propósito, ninguém sabe como
criá-los. Não é como nas novelas, onde um casal irresponsável recebe a visita
inesperada da cegonha e a presença do nenê é a varinha mágica que proporciona o
amadurecimento do casal. Aqui no mundo real, a maternidade é um saco, que só
faz subtrair a liberdade dos parceiros e multiplicar a dor de cabeça. Às vezes
até nos perguntamos como nossos pais conseguiram nos aguentar por tantos
anos...
Não me levem a mal, mas
minha geração foi talvez o maior display de maus exemplos que já se teve
notícia. É especialmente difícil para aqueles que cresceram ouvindo Nirvana e
Raimundos na adolescência exercer qualquer tipo de autoridade dentro de casa,
afinal é meio que uma traição de seus ideais anti-establishment tentar ensinar
regras de conduta aos pixotes. Como uma geração que provavelmente queimou todo
o fumo da Jamaica e esvaziou os alambiques de Pirassununga teria moral pra dizer
aos filhos a não seguir o mesmo caminho?
Com essa vida infernal
que levamos, com todo o stress e as neuras do dia-a-dia, os pais modernos
acabaram aprendendo a terceirizar a tarefa de criar os filhos. Se no nosso
tempo as babás davam conta do recado, agora elas são apenas uma das
encarregadas do serviço que devia ser dos pais. Psicólogas, avós, professores e
diretores de escola são meio que forçados a fazer o trabalho de educar e criar,
que os “donos” da criança não conseguem ou se recusam a fazer.
E o pior é que não
aparece ninguém para aliviar a barra dos catarrentinhos... Atualmente não
existem mais programas infantis na TV aberta, pois é proibido anunciar produtos
que qualquer espécie para crianças, pois os chatos no poder creem que
comerciais de brinquedos e “comida” são má influência para eles. E é uma
questão de tempo para essa besteira também contamine a TV por assinatura:
Atualmente tramita na câmara um projeto de censura da publicidade nos canais
infantis. Quem assiste, por exemplo, ao Cartoon Network sabe que
aproximadamente 4/5 da programação de canal são comerciais, logo se tal lei
viesse a furo o rendimento de tais canais sofreria quedas violentas e eles
acabariam tendo de encerrar atividades no país. Não dá vontade de se agarrar no
Pimpão de pelúcia?
*Designer
e escritor. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
HTTP://www.facebook.com/terradeexcluidos
cyberyanmar@gmail.com
Muitas coisas ficaram melhores, outras pioraram, como a segurança por exemplo. Não acho que as pessoas arrumem filhos contra a vontade. E outra, o ursinho Pimpão era uma gracinha.
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