terça-feira, 15 de abril de 2014

Certo dia...


* Por Eduardo Oliveira Freire

Os outros são nossos narradores. Não há fuga possível para o discurso alheio que nos constrói. Estamos à mercê dos advérbios que não queremos, dos adjetivos que não merecemos, dos pronomes que não escolhemos. Nossa história não nos pertence.
— Felipe Pena - "O Verso do Cartão de Embarque".

- Oi!
- Oi! Quem é você?
- Não me reconhece? Sou eu, a gente conversou na madrugada adentro em nossos sonhos.
- Como? Está equivocado, senhor.
- Poxa, no sonho é mais simpática. Não acredito que não se recorde de nossas conversas...
- Senhor, se não parar de me importunar, chamarei a polícia!

Ele a pegou pelo braço e a mulher gritou por socorro. A polícia veio e interveio. Ela deu queixa na delegacia.
Quando foi dormir, sonhou com uma mulher igual a ela:
“ Desculpa incomodar seu sono, mas o rapaz que a abordou é um cara legal, só um pouco problemático. Quando ele a viu, pela primeira vez, criou-me. Mas, sou um ser com pensamentos próprios, não uma marionete. Gosto dele por livre espontânea vontade... Por favor, retire a queixa! Juro que conversarei com ele e não vai mais incomodá-la!”.

No dia seguinte, a mulher retirou a queixa, mas não gostou da ideia de ter uma pessoa igual a ela na cabeça de um estranho. Sempre quis ser única.


* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/

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