Dia do Índio, algumas reflexões
* Por
Harry Wiese
No dia 19 de abril, já
é do conhecimento de todos, é o dia índio, criado pelo presidente da república
Getúlio Dorneles Vargas, pelo decreto-lei nº 5540, de 1943 e que relembra o ano
de 1940, quando várias lideranças indígenas do continente americano resolveram
participar do Primeiro congresso Indegenista Interamericano, realizado no
México. O dia do Índio tem como função relatar os direitos indígenas e fazer
com que todos conheçam a importância que eles têm na nossa história.
Como 2014 é um ano de
singular importância, principalmente, para a História de Ibirama e região, é
mister traçar algumas reflexões sobre a questão indígena.
Como já se sabe o dia
22 de setembro de 2014 marcará 100 anos do primeiro encontro pacífico entre
brancos colonizadores e índios, na localidade de Rio Platte, hoje pertencente
ao município de José Boiteux. Coube aos índios botocudos, que atuavam
principalmente nas terras de Hammonia e ao jovem Eduardo de Lima e Silva
Hoerhan, a iniciativa do contato.
Sabe-se que deste
primeiro encontro ocorreu uma enorme transformação em todos os sentidos tanto
para os brancos como para os índios. A história é longa e não pode ser aqui
narrada em detalhes.
Evidencia-se que, após
o primeiro contato pacífico, a maior ruptura nas tradições, cultura e língua,
coube aos indígenas. Vale salientar que enquanto a nação botocuda perdia sua
identidade, os colonizadores ganhavam em tranquilidade e progresso.
Por este motivo, não se
fala em comemorar o centenário da pacificação, pois não há motivo para
comemoração. Talvez seja prudente usar os termos “lembrar ou relembrar” a data;
que seja, pois, lembrar para refletir sobre a questão indígena centenária, à
procura de soluções, respeito e dignidade para com os irmãos da Terra Indígena
Ibirama. Mas o que eles, os índios, pensam sobre isso. Como os índios veem a
data dentro de seu contexto histórico?
O desabafo de Edu
Priprá, vice-presidente da Associação Indígena, da aldeia Barragem, em
entrevista recente, talvez reflita o sentimento da grande comunidade TI
Ibirama: “O branco tem como festival de lembrança, mas é a marca do sofrimento
que passaram estes índios. Devia ser o dia do choro para toda a população”.
Como não é possível
retroceder na história e como não é possível apagar o que já foi feito, faz-se
necessário procurar um entendimento “macro”, mais justo e mais nobre, para que
índios e brancos tenham uma convivência de cunho pacífico de sentido nobre e
duradouro, visto que o termo “pacificação” tem um leque de conceitos e
entendimentos. Cita-se excerto do livro “A sétima caverna”, de autoria deste
cronista, para confirmar o exposto: “Embora todos falassem que os índios foram
pacificados, papai e Criendiu não concordavam com este posicionamento. É
correto afirmar que os índios foram aldeados porque ninguém pacificou ninguém.
Gente não pacifica gente. Gente respeita gente. Só”.
Muitas atividades e
projetos sobre a questão indígena, neste ano de 2014, estão em andamento. O que
se espera é que aproximem com mais intensidade índios e brancos, que a história
do primeiro contato pacífico se transforme em contato permanente em ações
legítimas para todas as etnias envolvidas, mas que sejam, principalmente,
contatos de paz e amor na consciência de todos os habitantes desta Terra da
Fartura.
*
Harry Wiese é escritor que reside em Ibirama - SC. É autor de vários livros,
dentre eles A sétima caverna, romance premiado pela Academia Catarinense de
Letras.
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