Uma prece
* Por
Núbia Araujo Nonato do Amaral
Mal acorda e já espia o
tempo. É pequenina, mas não gosta de
fazer corpo mole. Adora os dias de calor, quando a água da bica negaceia e elas
rumam pro açude. Engole o pão dormido
com uma caneca de café, prende o cabelo
por exigência da mãe, é liso por demais
e tudo o que é enfeite escorre e
perde-se no caminho.
Segue a mãe, colada ao seu calcanhar. Vai
cantando uma musiquinha que fala de um peixinho. Sabe cantar tudo não, então só murmura. Os miúdos pulam no açude enquanto
as mães enchem as gamelas. Contida,
espera a sua ordem pra se aguar um pouco.
Séria, ela lhe ordena pra ficar na beirinha, pois
lá pro meio tá cheio de buracos. Esquece-se da menina e cai na lida. Só se dá
conta da sua ausência com o som das crianças gritando. Acode daqui! Acode de lá!
Dona Nena, magrela que só nada bem, resgata
seu tesouro que, assustada, pula em seu pescoço. As lavadeiras entoam uma canção pra Deus, que
perdeu um anjo, mas ganhou uma prece.
* Poetisa, contista, cronista e colunista do
Literário
Uma vez quase que um "chupão" me levou, mas uma prima que estava ao meu lado, percebeu e me puxou. O nome dela é Márcia Prates. Linda e bem contada a sua história Núbia. Docinha, docinha, ainda que dramática.
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