Precisamos
de certezas
* Por Pedro J. Bondaczuk
A maior tortura que temos,
provavelmente, na vida é a incerteza, seja lá do que for. Todavia, ela é a
grande característica dessa aventura magnífica, que é a possibilidade de viver.
Nunca estamos absolutamente certos de quase nada (diria, para ser mais exato,
de nada mesmo). Não temos certeza de que a profissão que escolhemos é a mais
adequada, de que a decisão que tomamos (não importa de que natureza) é a
correta, de que o amor que dedicamos a alguém é plenamente correspondido (mesmo
que as manifestações dessa pessoa, seus atos e reações, dêem essa indicação) e
vai por aí afora.
No caso dos relacionamentos, a
prova de que nunca estamos seguros da plena correspondência da amada é o
sentimento do ciúme, que todos temos em algum momento, posto que em
intensidades variáveis, de acordo com nossa formação e personalidade. Todos
somos, em algum momento, aquele personagem de William Shakespeare, o Iago,
desconfiados da fidelidade da nossa Desdemona particular.
Certeza, mesmo, só tenho duas e
ambas baseadas exclusivamente na lógica: a da existência, imanência,
transcendência e eternidade de Deus (não exatamente com as características que
o vulgo Lhe atribui) e de que um dia, que não sei quando, vou morrer. No
mais... Tudo é incerto, duvidoso, passivo de comprovação. E quando comprovamos
alguma coisa, a prova nunca é cabal, irretorquível, absolutamente convincente,
sem nenhum aspecto obscuro carente de maior esclarecimento.
Qual é a fonte dessa compulsória
incerteza? É, sem dúvida, o desconhecimento. Fôssemos oniscientes, não haveria
o mínimo espaço para o duvidoso, o misterioso e o incerto. A ciência humana (ou
o que entendemos como tal) ainda é muito rudimentar para nos dar já não digo
todas as respostas, mas pelo menos as elementares.
A todo o momento, conceitos tidos
e havidos como verdadeiros – não raro, como dogmas imutáveis – são derrubados e
substituídos por novas descobertas. Até meados do século XIX, por exemplo,
vírus e bactérias eram desconhecidos e as pessoas acreditavam, sem pestanejar,
na “geração espontânea”.
Foi preciso o trabalho paciente
(e competente) de um Louis Pasteur para demonstrar que isso era absurdo. Que
apenas vida pode gerar outra vida. No Século XVI, quem dissesse que a Terra era
redonda e orbitasse o Sol (e não o contrário), seria tido como insano, se não
como herege. Galileo Galilei Galileu que o diga. Pagou duríssimo preço por
afirmar o contrário do que era dogma da Igreja.
Nosso conhecimento sobre o mundo
que nos cerca, embora achemos que seja extraordinário, é ínfimo, ridículo,
pífio, diante do que há, ainda, por aprender. Imaginem em relação ao universo!
Portanto, convém não sofrer em demasia com as incertezas. É prudente,
sobretudo, não as transformar em “doenças do espírito”.
Haveremos de conviver com elas –
múltiplas, variáveis, intensas ou fracas – enquanto vivermos. Morris West
escreveu, a respeito, no romance “O Verão do Lobo Vermelho”: “O povo precisa de
certezas. Até a certeza de morrer é uma ajuda para muitos. A doença do espírito
é uma doença de desconhecimento e incerteza”.
Se as incertezas, porém, são um
tormento (e de fato são), não deixam, por seu turno, de ter também um lado
positivo. São, ao lado da necessidade, as grandes propulsoras do progresso. É
em busca de certezas que pesquisamos, inquirimos, procuramos, estudamos, nos
esforçamos às vezes até o nosso limite e nos expomos às mais variadas
experiências, na busca da verdade (ou do que julgamos como tal).
Ela é a inesgotável fonte da
Filosofia, a “mãe de todas as ciências”, que nos desafia, desde o princípio dos
tempos, a responder três questões fundamentais: o que somos, de onde viemos e
para onde vamos? Respostas para essas aparentemente simples (no entanto,
intrigantes) perguntas foram dadas milhões de vezes, por milhões de pessoas, em
todos os tempos e lugares. Nenhuma delas, todavia, soou convincente.
Persiste a incerteza. E, por
persistir, gerações e mais gerações (se o homem não se destruir antes e não
eliminar a vida do Planeta), seguirão com forte motivação para estudar,
perquirir, pesquisar, procurar e se esforçar ao limite máximo de suas forças em
busca da verdade. Preciso, como todos, de certezas. Onde e, principalmente,
como obtê-las é a questão que me desafia e continuará a desafiar enquanto
permanecer na Terra, vivendo essa aventura incerta e, por isso, tão fascinante.
* Jornalista,
radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual
Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do
Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Abordagem clara do que é para você a verdade. Ensina e faz pensar, Pedro. Obrigada!
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