As viuvezes de Oswaldo
* Por
Gustavo do Carmo
Voltava do enterro da
esposa. Morrera de câncer no colo do útero. Tinha apenas 30 anos. Ainda era uma
menina. Com ela teve dois filhos, um casal ainda pequeno que iria crescer sem a
mãe.
Gerlaine era a sua
terceira esposa. As duas primeiras também morreram de câncer no colo do útero. Maria
Isabel também não passou dos 30 e deu três filhos homens a Oswaldo. Todos já adultos.
O mais velho até já lhe deu dois netos. Aurora ainda chegou aos 35 e deu duas
meninas, hoje adolescentes, ao então biviúvo.
Foi só depois da morte
da quarta mulher, Ana Helena, que Oswaldo se questionou porque todas as suas
mulheres morriam de câncer de colo de útero. Oswaldo não era analfabeto. Sabia
que essa doença existia e era transmitida pelo HPV. Mas, como dono de padaria,
nunca teve tempo para fazer um exame urológico.
Achava que era azar.
Castigo por não dar atenção necessária aos filhos (teve mais uma menina com
Helena). Praga de algum desafeto. Somente quando morreu a quinta mulher, Célia,
de apenas 26 anos (que não lhe deu filhos), é que Oswaldo começou a se culpar
por não ser um marido exemplar.
Já aos setenta anos,
ele sempre dava em cima das mulheres mais novas. Todas as mulheres com quem se
casou depois de Maria Isabel já conhecia
durante o casamento com a anterior. Assim que a esposa morria, logo já assumia
o novo romance e se casava com a próxima. Só se culpava por isso.
A culpa realmente era
dele. Lidiane seria a sua sexta esposa, mas a primeira que o obrigou a fazer um
exame pré-nupcial. As outras desconheciam a doença, pois tinham baixa
escolaridade. Com exceção da Maria Isabel, eram todas empregadas do velho padeiro.
Lidiane já sabia da
fama de “viúvo negro” do pretendente. Advogada, já tinha 40 anos, dois filhos e
ia se casar pela segunda vez, pois o primeiro marido morrera de câncer no
pulmão. Impôs o exame a Oswaldo, que descobriu que era portador de HPV e estava
com câncer de próstata já em estado avançado.
Lidiane foi a primeira mulher
que sobreviveu ao casamento com Oswaldo. Era vacinada contra o HPV. Ficou mais
rica do que já era. Herdou a aposentadoria e as padarias do marido, que padeceu
do câncer. Eles se casaram em comunhão total de bens quando Oswaldo já estava
internado em estado terminal. Ela só não sobreviveu ao casamento com Henrique, o
segundo filho mais velho de Oswaldo, que a contaminou com o HIV que
desconhecia.
* Jornalista e publicitário de formação e escritor
de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São
Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora
Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu
blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores
Ai, que história ultratrágica, Gustavo! Os vírus ainda dizimarão a humanidade.
ResponderExcluir