Amantes
* Por Rodrigo
Ramazzini
Adailton e
Janaína eram amantes. Encontravam-se sempre às quintas-feiras à tarde, que eram
quando ambos tinham folga do trabalho e dos compromissos familiares. Conheceram-se
na inauguração da loja de um amigo em comum. Como estavam com os respectivos companheiros,
apenas trocaram olhares na oportunidade. A partir daí, guiados pelo desejo, o
destino conspirou para que conseguissem entrar em contato um com o outro. Fazia
seis meses que se relacionavam às escondidas, o que despertava uma carga de
adrenalina nunca antes sentida pelo casal. A sensação de fazer algo “proibido”,
“imoral”, em “segredo”, era o combustível que desencadeava em loucas e
inesquecíveis transas e incontáveis orgasmos. Assim, ficaram viciados um no
outro. Quase como um ritual, fechavam os encontros sempre depois que ele fumava
calmamente um cigarro deitando na cama e ela bebericava um uísque. E, foi ao
comentar o quão prazeroso tinha sido um desses encontros via mensagem de
celular e com o objetivo de agendar um próximo que, por descuido, ele acabou
esquecendo-se de apagá-la, ficando o rastro. A esposa pegou o aparelho durante
um dos seus banhos e viu a mensagem. Foram descobertos.
Passaram as
quatro semanas seguintes entre turbulentas discussões e separações dos seus
companheiros até que conseguiram se reencontrar. Então, decidiram: iriam morar
juntos, mesmo sabendo que enfrentariam intensos comentários alheios. Mas,
estavam convictos que a paixão entre eles venceria qualquer obstáculo.
Alugaram uma
casa e juntaram as escovas. Os primeiros oito meses da união foram maravilhosos
e as loucas transas permaneceram intensas. No entanto, a partir daí, os
problemas de convivência, manias e os defeitos um do outro, que até então eram
relevados, foram se acentuando e começaram a desgastar a relação. Surgiram as
brigas, as cobranças e discussões. Depois dois anos de relacionamento o sexo
passou a ter data marcada no calendário.
Foi então que
tudo começou a mudar na vida do casal. Era um sábado e Adailton participara de
uma palestra organizada pela matriz da empresa em que trabalhava e suas
respectivas filiais. Assim, conheceu Maíra, uma bela morena de seios fartos.
Logo, a nova colega de trabalhou aflorou os “instintos masculinos de predador”
de Adailton. As lembranças do início da relação com Janaína vieram em seus
pensamentos. Precisava sentir aquela sensação de adrenalina novamente correr em
suas veias. O “proibido” era o seu vício. Não demorou muito para começarem a
terem um caso.
O fato de ter
duas mulheres deixou Adailton com a autoestima elevada, mas com a
responsabilidade de “fazer bonito” em casa e fora. Isso refletiu positivamente
no relacionamento com Janaína, que no mesmo instante passou a responder a
empolgação dele com belas noites de sexo, em uma espécie de “recordar” dos
velhos tempos.
Após seis
meses neste triangulo amoroso, em certa tarde de quinta-feira no motel, com a
bela Maíra deitada aconchegantemente sobre o seu peito, Adailton fumava um
cigarro como se o tempo parasse a cada tragada, foi quando, sem ter um motivo
aparente, Maíra lhe questionou:
- Como está à
relação com a tua mulher?
- Boa! Muito
boa!, respondeu sem pensar muito.
A pergunta lhe
fez refletir sobre a relação com Janaína. Fazia tempo que não pensava sobre o
assunto. O relacionamento estava estranho, mas, curiosamente, tinha melhorado
nos últimos tempos. Estavam tratando-se com mais carinho e atenção para a
rotina, com os dois querendo saber o dia a dia um do outro. As brigas praticamente cessaram. Tinham
voltado quase à época em que eram amantes. Então, caiu-lhe a ficha sobre o
motivo para essa melhora repentina ao relembrar o próprio passado do casal:
- Ela tem
outro!
Enquanto isso,
em outro motel da cidade, Janaína bebericava um gole de uísque depois de um
sexo selvagem com o amante e dizia para si mesma pensando em Adailton:
- Eu sei que
ele tem outra!
* Jornalista e
contista gaúcho
Lógica cartesiana.
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