O francês casual
* Por Ruth Barros
Anabel tem um amigo francês (ai)
alto, moreno, bonito (ai, ai) e muito bem casado (ai, ai, ai, ai, ai). Esse
moço, que além de tudo é muito simpático, é um executivo muito bem sucedido e
chiquérrimo, porque afinal de contas ele é parisiense de boa conta bancária,
somatória pra lá de favorável. Pois almoçando juntos na sexta-feira, estranhei
que mantivesse o terno e gravata. Não que isso o desfavoreça, absolutamente,
homem bacana de terno é o que há e esse é um gato, como já esclareci, mas pelo
fato de manter o costume em um dia, sexta-feira, consagrado pela comunidade
yuppie como casual day, ou seja, de roupas informais.
-Sou contra essa moda –
esclareceu muito sério (ai). – Tem gente que não tem a menor discrição, os
caras usam umas coisas espalhafatosas, medonhas e o terno, por mais pobre e
simples que seja, sempre dá um ar mais profissional, menos ridículo que certas
camisas de estampas berrantes.
Fui obrigada a concordar, já vi
sujeitos com ternos muito feios e de mau gosto, mas o pior foi vê-los “a
paisana”, de roupas normais, se é que é possível chamar de normal bermudão com
sapato e meias até quase no joelho. Mas a coisa não pára por aí. Meu amigo
prosseguiu, com seu adorável sotaque:
- Para as mulheres é pior, a
maioria das brasileiras confunde casual com pouca roupa. Fica então um festival
de saias muito curtas, decotes, saltos imensos, bijuterias escandalosas, enfim,
o escritório fica meio com cara de ensaio de escola de samba.
Novamente concordei, não que
tenha nada contra escola de samba, muito pelo contrário, e ele também não, mas
não há porque confundir uma coisa com outra. Como diria o velho sábio chinês
“uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. E no caso da sexta-feira
casual elas acabam se misturando.
- Como os caras vão com a roupa
que querem e muitas vezes muito mal vestidos, ficam pouco a vontade para ir
atrás de clientes, procurar negócios – explicou meu amigo, que é
vice-presidente de um banco. – Então, pagamos por cinco dias da semana que
acabam se reduzindo a quatro. O que vou fazer, cortar 20% do pagamento dos
funcionários? Não dá.
Antes que os leitores queiram
trucidar meu amigo por achá-lo implicante com os brasileiros, devo esclarecer
que o fofo se naturalizou tupiniquim. E já colocou mais duas lindas
brasileirinhas no mundo, que aliás também têm mãe brasileira.
Isso me fez lembrar do João Pedro Stedile, o líder do MST.
Pai de quatro filhos, que acha pouco, ele andou incentivando algum tempo atrás
os brasileiros para não adotarem o controle de natalidade, a “produzir
socialistas”. Foi uma das coisas mais estúpidas que ouvi nos últimos meses,
além de achar no mínimo falta de caridade com as mulheres pobres, aquelas que
não têm acesso a anticoncepcionais, a saúde, a educação para os filhos, a
praticamente nada. Essas mulheres, que muitas vezes depois são obrigadas a ver
os rebentos nas cadeias ou mortos na violência das ruas e favelas, mereciam
mais respeito.
Por causa de bobagens como essas,
no caso uma aliança informal entre a Igreja, que acha que sexo só presta pra
reprodução, a esquerda, que acha que presta para fabricar guerrilheiros e
socialistas e o regime militar, que não queria se meter na questão, saltamos
dos 90 milhões em ação da década de 70 para quase o dobro em 30 anos. Imaginem, já que estamos no assunto, se fosse
a França ou qualquer outro país rico que dobrasse de população nesse meio
tempo? Seria o caos do sistema social, quase o fim do mundo, ou melhor, la fin
de monde.
Anabel Serranegra gosta muito de
Paris
* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou
carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto
estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na
Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de
imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo
Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.
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