Castelos de areia
* Por
Evelyne Furtado
À primeira vista era
mais uma mulher passando na rua, seguindo seu caminho como tantas outras.Um
certo cuidado na aparência tornava-a atraente, mas não chegava a se destacar.
O semblante um tanto
ausente e uma maneira lenta no caminhar revelariam a um observador mais atento,
a profundidade dos pensamentos daquela mulher.
Ela não seguia só.
Carregava as angústias de um futuro próximo e ilusões do passado, algumas bem
próximas outras não. Trazia consigo lembranças de momentos felizes, que
emprestavam um leve sorriso ao seu rosto e um brilho travesso no olhar.
Mas nesse dia em
especial, sua concentração estava nas expectativas frustradas e nas promessas
não cumpridas.Quantos castelos de areia ela havia feito sabendo que o mar não
os manteria de pé? É próprio do mar derrubar castelos de areia.
Mas sonhar era a
atividade preferida dela e na adolescência os sonhos ainda que desfeitos tinham
o futuro como atenuante e não doía tanto vê-los ao chão.
- Quem sabe a vida não
surpreenderia com uma realidade melhor?
Assim foi vivendo,
abrindo mão de um desejo por outro mais viável, sofrendo um pouquinho aqui e
sendo feliz mais à frente.Teve alegrias e realizações, porém a vida, por vezes,
mudava totalmente de curso e mostrava seu lado feio.Provocava mudanças
drásticas e não havia como saltar do trem, tendo que continuar até a próxima
estação.
Ela seguia, mas seguia
sonhando, até que ouviu o primeiro alerta da maturidade, avisando-a que era
hora de agir e ela agiu, mas não sem se apegar aos sonhos, eles davam força
para continuar.
Havia, também, os que a
convidava a fantasiar e ela fingia acreditar. Dissimulava tão bem que a
fantasia tomava seu coração e quando a realidade despertava-a a dor e a raiva
por ter sido co-autora da ilusão, faziam-na chorar.
Hoje as promessas não
cumpridas apertavam seu peito.Vivia outro chamado da tal maturidade, seus
devaneios agora doíam mais quando se desfaziam.
O futuro não era tão
excitante como já fora. Já conhecia a vida, o que a fazia perder um pouco de
esperança. - Será que isto é amadurecer? Indagava enquanto sentia um desejo
enorme de se proteger no sonho.Seu caminho já não oferecia grandes perspectivas
e sua alma escurecia ao constatar essa verdade.
Ela ainda queria mais,
muito mais do que se arrastar pela rua fazendo de conta que sabia a onde
ia.Queria voar, todavia mal andava com o peso das frustrações acumuladas e
pedia baixinho a Deus para voltar a sonhar
Poetisa
e cronista de Natal/RN.
Madura e eterna sonhadora.Errante no andar e no pensar. Precisa de um tratamento psicanalítico para achar o rumo.
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