O Verão
* Por
Flora Figueiredo
Chego úmido e túrgido,
os poros ansiosos.
Alterno o indecoroso e a lassidão.
Tropical que sou,
venho alinhavado em sedução,
no tom abrasivo do pecado.
Por onde eu vou,
risco perfis de sombras
que são do sol a cicatriz.
Ao meio-dia, elas soltam-se fartas
e amam-se quietas e sobrepostas,
deitando as sinuosas sobre as retas.
O calor, sem pudor, lhes roça as costas.
* Poetisa, cronista,
compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”,
“Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima,
ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua
intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes
romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem
concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho
profundo nas águas da vida.
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