A inveja do pênis ou... vive la différence!
* Por Rosana Hermann
Antes de mais nada, quero deixar
claro que sou mulher e até agora não fiz nenhuma cirurgia pra pôr ou pra tirar
nada. Minto: fiz sim, duas cesarianas, mas foi só pra tirar a criança de
dentro.
E, uma vez estando na região
mencionada, vamos diretamente ao assunto, a inveja do pênis. Todo mundo já
ouviu falar nisso algum dia, seja através de uma amiga, um parente, um
psicanalista ou um tarado. Inveja do pênis foi uma expressão criada por Freud.
E, para a grande maioria das pessoas, significa exatamente isso mesmo, inveja
do pênis.
Em princípio, não tenho nenhuma
carteirinha, diploma ou crachá que permita que eu fale qualquer coisa sobre
Freud, já que os profissionais especializados, assim como as faxineiras, não
gostam que ninguém mexa em suas áreas de serviço.
Mas, na condição de mulher,
sinto-me no direito de dar meu depoimento sobre o assunto. Ainda mais agora,
que é moda. A elite da comunidade científica acaba de descobrir que homens e
mulheres são diferentes, coisa que Joãozinho e Mariazinha há muitos anos
descobriram num simples abaixar do calçãozinho. Mas, sigamos adiante. A inveja
do pênis não é um desejo que a mulher tem de ter um negócio igual só pra ela.
Imagine! A essa altura do campeonato, se subitamente Deus me presenteasse com
um pênis, eu não saberia nem onde colocá-lo!!! É como se chegasse um caminhão
de mudança na porta da sua casa dizendo que mandaram entregar o obelisco do
Ibirapuera!!! Salvo as devidas proporções, claro!
A inveja do pênis é mais uma
grande sacada da mente privilegiada e doentia desse louco do Freud, esse
Einstein da mente humana. O que causa inveja a uma mulher não é o pênis em si e
sim a LIBERDADE que o homem tem, a partir do próprio corpo.
Meninos têm mais liberdade pra
transar, rapazes não ficam menstruados, homens não ficam de resguardo antes,
durante e depois do parto, nunca terão que ficar com um bebê pendurado no
peito. É a famosa sabedoria vulgar do "lavou, enxugou, tá novo".
Mulheres, não. Mulheres são
criaturas em desequilíbrio cíclico. Mulheres sofrem marés, num eterno vai e
vem, como o mar por causa da lua. A gravidez, por exemplo, não são nove meses,
são quarenta semanas, ou quarenta luas . Dez ciclos lunares de quatro fases.
Não é de admirar que as mulheres são de lua!
Mulheres vertem sangue, suor,
lágrimas e leite. Nem máquina de refrigerante tem tantos sabores! Ninguém está
julgando se isso é mau ou bom; apenas é assim. E por todas as coisas que a mulher
tem que arrastar junto consigo, ela deixa de ter essa liberdade. Essa
MOBILIDADE que todo homem tem.
Já viu mulher sair sem bolsa? Sem batom, espelho,
maquiagem, absorvente? Já viu mãe sair sem a bolsa de fraldas, mamadeira,
aquecedor de mamadeira e as fotos do outro filho? Já? Parecem aquelas Iemanjás
saindo do mar, com uma imensa rede cheia de penduricalhos! (já viu esse
poster?)
Homens não. Homens vão e voltam,
carregam muito menos bagagem do que suas mulheres. Qualquer pesquisa nos
aeroportos do mundo mostraria isso. Homens têm trânsito livre. Homens fazem
xixi em pé. Não precisam nem levar papelzinho, penico, nada. É como cantavam os
integrantes do Coral dos Bigodudos naquela canção: tim-tim-tiriri-timtim (bis),
tirei, peguei, chacoalhei, guardei, tornei a pegar, chacoalhar, guardar, tornei
a guardar no mesmo lugar!
E o Freud, num lance genial, deve
ter se perguntado: e o que melhor representaria o homem em relação à mulher? O
pênis. Então, a inveja do pênis é a inveja de ser homem.
Eu, particularmente, reclamo
muitas vezes da minha condição de ser mulher, mas acho que Deus sabe o que faz.
Talvez, ser homem permitisse toda essa liberdade, mobilidade e tal, só por ter
um pênis. O problema é aquele fantasma que todo homem carrega... a eterna sombra
do seu pênis... o compromisso de mantê-lo por toda a vida sempre em
funcionamento. E, convenhamos, fazer qualquer coisa funcionar a vida toda é
duro!
*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear
pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira
por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.
Ótima abordagem, lembrando que o brinquedinho nosso é de abrir e o deles é de armar, bem mais fácil de dar defeito.
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