A morte da mulher fatal
* Por
Evelyne Furtado
A expressão anda em
desuso, mas já foi muito utilizada. Mulher fatal era aquela que abatia a presa
(o homem) a um olhar. Na verdade ela usava mais que o olhar. Vestia-se para
matar, de preferência uma roupa preta, decotada, insinuante e tinha todo um
jeito manhoso de falar.
O cinema eternizou
mulheres fatais. Rita Hayworth, em Gilda pintou e bordou. Gilda ainda é um
símbolo da mulher perigosamente sedutora, apesar do filme ser de 1946.
Outro exemplo é Marilyn
Monroe, nome artístico de Norma Jean Baker, talvez o maior símbolo sexual
feminino contemporâneo. A imagem de Marilyn é muito forte ainda hoje, apesar de
ter morrido em 1962, na plenitude dos seus 36 anos. Muitas estrelas que
sucederam a linda loura, imitaram alguma de suas poses clássicas, com biquinho
sexy e tudo.
Aliás, diga-se de
passagem, toda mulher já teve no seu imaginário um dia (ou uma noite) de mulher
fatal e todo homem já sonhou ser seduzido por uma.
Atualmente não temos
uma celebridade que personalize a mulher fatal. Talvez isso esteja ocorrendo
pela rapidez com a qual a estrela do momento é substituída por outra.
Uma segunda alternativa
é a de que as atrizes não estejam mais se deixando rotular como símbolo sexual.
As duas causas podem andar juntas, embora eu simpatize mais com a segunda, pois ela liberta a mulher desse papel que a aprisiona.
Na verdade a mulher
fatal é uma sedutora e as sedutoras ainda existem, mesmo que não sejam mais
pintadas com tintas tão fortes. Todas somos sedutoras, de uma forma ou de
outra, mas falo daquelas que fazem da sedução o seu maior trunfo. Trato
daquelas mulheres que sempre estão seduzindo. Essas que não se cansam em buscar
mais uma vítima, pois é assim que vêem a sua presa. Mulheres que medem o seu
valor através de seu poder de sedução.
Vendo com olhos mais
apurados observo que a sedutora traz em si uma carência enorme. Um vazio
interior sem fim que a leva a multiplicar as conquistas para alimentar sua fome
de amor, sem que venham a conquistar um amor de verdade, pois não a amam como
ela é, mas como ela se mostra ser.
Quero crer que o
símbolo da mulher fatal esteja morrendo para dar vida a uma mulher com
interesses maiores. Tomara que estejamos assistindo à transformação da mulher
coquete em uma mulher mais profunda e mais feliz, uma vez que o fim da mulher
fatal é quase sempre muito triste, haja vista o exemplo de Marilyn Monroe.
Acredito que hoje
lidamos com nossas carências de modo mais direto e aparentemente mais difícil.
Todavia esse enfrentamento é o caminho para nos libertar dessa saia justa para
uma vida mais plena. Melhor deixarmos a mulher fatal apenas em nossas
fantasias.
* Poetisa
e cronista de Natal/RN
Abordagem que não condena a mulher fatal, dando-lhe essa possibilidade de comportamento, mas sem tirar-lhe outros atributos. Ficou original.
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