sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Dezenove de Janeiro

* Por Paulo Henriques Britto

Até esta chegar às suas mãos
eu já devo ter cruzado a fronteira.
Entregue por favor aos meus irmãos
os livros da segunda prateleira,

e àquela moca —a dos "quatorze dígitos"-
o embrulho que ficou com teu amigo.
Eu lavei com cuidado o disco rígido.
Os disquettes back-up estão comigo.

Até mais. Heroísmo não é a minha.
A barra pesou. Desculpe o mau jeito.
Levei tudo que coube na viatura,

mas deixei um revólver na cozinha,
com urna bala. Destrua este soneto
imediatamente após a leitura.

De Trovar claro (1997)


* Poeta, lingüista, professor e tradutor, autor dos livros “Liturgia da matéria”, “Mínima lírica”, “trovar claro” e “Macau”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário