Uma poesia sem angústias
* Por
Clóvis Campêlo
Dizem que as amizades
nascidas virtuais são como amor de carnaval e logo se acabam. Mas, não sei bem
se é assim. Na internet, tenho conhecido pessoas extraordinárias e que
conseguem mexer comigo e com a minha maneira de ser. Uma delas, foi a poetisa
mineira Elane Tomich.
Libriana, nascida em
Belo Horizonte no dia 9 de outubro (mesmo dia em que nasceu o ex-beatle John
Lennon), tem como qualidade latente a crença de que dias melhores sempre virão.
O amanhã sempre lhe será melhor e os problemas possíveis servirão cada vez mais
para exercitar-lhe a capacidade de sobrevivência. Isso nunca me foi dito por
ela diretamente, mas reflete-se com intensidade nas suas postagens
facebookianas e nos seus textos e poemas.
Acaba de lançar o livro
“Véspera de mim”, do qual me foi enviado gentilmente um exemplar. Dele me sirvo
para sedimentar os meus pontos de vista sobre a sua pessoa e a sua obra,
certificando-me assim do que a minha capacidade de observação e a minha
intuição já me indicavam.
Nos versos do poema que
dá nome ao livro, por exemplo, já se anuncia esse libelo esperançoso:
“Hoje é véspera de mim.
Amanhã, quando amanhecer
Terei um filho que verei crescer
Serei para
sempre muito mais que assim
E vestirei meu contentamento
Passado a limpo
por forte tormento
E em grande orgia de despojamento
Será queimado o meu
testamento”.
Nada mais
autobiográfico do que a estrofe acima. Talvez por isso, por conta desse
otimismo desenfreado, em um mundo cada vez mais dominado pelo receio do futuro,
o seu sorriso sempre franco e aberto, a sua expressão de menina feliz, mesmo já
entrando na fase madura da vida, ao lado dos filhos e netos.
E esse é o seu canto de
amor, de esperança, de fé e de credo, que suplanta qualquer ideologia possível
para exaurir-se em energia transformadora, em energia do bem. Mostra-se a
poetisa acima do bem e do mal, não em delírio inútil e desvairado, mas na sua
capacidade de interpretar positivamente todas as nuances da vida, todas as
alegrias e falsetas que lhe são servidas (e a todos nós outros, humanos) pela
existência. O que a diferencia de outros seres e pessoas, na vida e na poesia,
é essa disposição transformadora e de superação. A sua música sempre nos traz
latente uma nova mensagem de esperança.
No poema “Ainda que
seja cedo”, mais uma demonstração dessa sua capacidade de simplesmente ser
feliz:
“Ainda que seja cedo /
que o sol desbrilhe por medo / atrás de uma nuvem de chuva / em ameaça de
morrer / ao se jogar do telhado.
…..
Nessa noite encompridada
/ pela luz que emudeceu / nosso amor brinca sem medo / ainda que seja cedo!”
É tão intensa a alegria
que existe nos textos de Elane Tomich que uma pequena crônica como essa é
insuficiente para a explicitar. Fica latente em nós a vontade de prolongar essa
análise em outros comentários e artigos.
* Poeta,
jornalista e radialista, blogs:
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