A antecipação de um desejo
* Por Cecília França
Esperava pela ligação de outra
pessoa, por isso, quando o telefone tocou atendeu com tranqüilidade. Mas a
calma deu lugar a um frio no estômago quando percebeu que era ele.
- Oi Júlia, é o Alexandre...Martins
– disse isso como se apenas o primeiro nome não fosse o suficiente para ela
reconhecê-lo. Pega de surpresa, ela não teve como disfarçar a sensação que
aquele telefonema causava a ela e, a julgar pela pressa com que falava, a ele
também.
Não se viam há bastante tempo, o
que ela achava bom, já que temia perder o controle ao seu lado. No entanto, ele
freqüentava seus sonhos diariamente. Não raro o imaginava como protagonista de
cenas de amor, em que se declarava dizendo não mais suportar a distância. Considerava
positivo o afastamento deles, porém, a esperança de que o fato de não vê-lo
acarretasse o esquecimento caíra por terra. Pelo contrário, só fizera aumentar
a ânsia por sentir seu toque.
Respondeu ao telefone tentando
demonstrar calma, mas com o rosto vermelho e, logo depois, em chamas assim que
ele revelou o motivo da ligação. Queria sair com ela, precisava conversar sobre
um assunto que ele imaginava que somente ela poderia ajudar. Sentou-se, absorta
pela idéia de estar sozinha com ele, onde quer que fosse.
Procuraram um local mais
retirado, onde pudessem conversar e, quem sabe... O assunto realmente era sério
e ela ficou feliz por ele ter confiado nela. Sentaram de frente um para o outro
e ela evitava pousar a mão em cima da mesa, temendo que ele a tocasse. A
conversa durou mais de uma hora e, assim que chegaram àquele ponto
constrangedor em que reina o silêncio e, costumeiramente tomam-se decisões
erradas, ela afirmou que precisava ir embora. Ele não relutou. Pagou a conta
sem deixar que ela ajudasse e abriu a porta do carro para ela, atitudes que
contrastavam com seu perfil áspero.
Durante o trajeto era nítido o
incômodo de ambos. Ela escorava-se na porta enquanto mantinha os olhos fixos na
rua. Ele, dirigia mudo. As respirações eram ofegantes, não dava para esconder.
Apoiou a mão no assento e ele, instintivamente, começou a acariciá-la. Ela
correspondeu, entrelaçando seus dedos aos dele, mas ainda sem olhá-lo. Quando
pararam em frente à sua casa não queriam soltar-se.
- Por quê? - perguntou.
- Por que o quê? – questionou ele.
Virou-se para fitá-lo.
- Por que você está pegando na
minha mão?
- Eu gosto disso – falou com
calma.
- Por quê?
- Por que você acha?
Ela estava cansada de meias-palavras,
de conversas enigmáticas, frases interrompidas.
- Só você pode me falar o motivo. E eu quero
saber agora.
O vigor de sua voz demonstrava
que não estava para brincadeira.
- Tá bom. Você me atiça, me deixa
louco para te beijar! É isso.
Ele nunca havia dito nada tão
claro, com todas as palavras, embora ela, intimamente, já soubesse. Suas mãos
ainda estavam unidas, apertando-se uma a outra, quase machucando-se. Era
visível a tensão e o desejo de ambos, mas ninguém queria ceder. Ela, como de
costume, tentaria um meio de fugir. Tentou soltar-se dele, pegou a bolsa com a
outra mão e abriu a porta do carro.
Nesse momento, ele puxou-a com
força, com um vigor que a fez estremecer.
- Você não vai sair assim – e a
proximidade dos dois a permitia sentir o ar quente de sua boca. Soltou a porta,
que voltou a fechar-se. Estava entregue, não teria reação a qualquer que fosse
a atitude dele.
A mão rígida encontrou sua
cintura, apertando-a e depois descendo por seus quadris. Ela quase sorria à
espera do beijo, querendo prolongar aquela sensação deliciosa de sedução. Foi
então que ele passou o braço por trás dela e a puxou de encontro para seus
lábios. Sua mão envolvia o pescoço dela e os dedos entravam em seu cabelo.
Ela já não sabia mais onde estava
quando ouviu o tu-tu-tu do telefone.
* Jornalista
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