Olhos azuis, cabelos pretos de Marguerite Duras
* Por
Eduardo Oliveira Freire
A imagem do título veio
a minha mente como características não muito comuns do que se vê por ai. Uma
pessoa loira de olhos claros é mais corriqueiro, por exemplo. Portanto, o
título se refere a um personagem de passagem, um estrangeiro-exótico que se
transforma em uma quimera para uma mulher de comportamentos não covencionais e
um homossexual. Ele será o elo que ligará estes dois personagens.
O homossexual é
apaixonado por uma visão, apenas conheceu o rapaz de vista. Ela ama uma ilusão,
conheceu-o somente por encontrá-lo num hotel. Desesperados e melancólicos por
perder o rapaz de olhos azuis e cabelos pretos, o homem e a mulher se encontram
num café e começam a construir uma estranha relação. Com o passar do tempo,
essa mulher apaixona-se por esse homossexual que sente atraído, com medo e
repulsa dela, em vários momentos. Todavia, insiste em vê-la nua e lhe toca
enquanto ela dorme. O livro mostra uma crise existencial entre os dois
personagens.
Principalmente, por
serem à margem da sociedade convencional. Na narrativa não há nomes. Mostra o
intervalo que a mulher e o homem ficam isolados a espera do moço estrangeiro e,
ao decorrer da narrativa, começam a se apaixonar e experimentar sensações
vertiginosas.
“ A uma determinada
hora da noite não há mais nenhum ruído em torno da casa. Com a maré baixa
àquela distância do quarto ouve-se apenas o martelar espaçado da arrebentação,
sem eco algum. Nessa treva não há mais latidos de cachorros ou sacolejar de
caminhões. É depois das últimas caminha, ao aproximar-se do dia, que as horas
se esvaziam de toda substância até se tornarem espaços nus, areias de pura
travessia. Então a lembrança do beijo fica muito forte, queima-lhe o sangue,
faz com que não falem, eles não podem.”
A linguagem do enredo
tem uma estrutura teatral. Cada parágrafo é uma cena e há também, pelo que me
parece, uma metalinguagem.
“ No fundo do teatro,
diz o ator, teria havido uma parede azul. Essa parede fechava o palco. Era
maciça, exposta ao crepúsculo, fronteira ao mar. Originalmente teria sido um
forte alemão abandonado. Essa parede era definida como indestrutível, embora
seja açoitada pelo vento do mar, dia e noite, e receba cheio as tempestades
mais fortes.O ator diz que em torno dessa parede e do mar o teatro fora
construído, para que o rumor do mar, próximo ou distante, esteja sempre
presente no teatro.”.
OLHOS AZUIS, CABELOS
PRETOS é tão bem escrito e vertiginoso como O AMANTE, elaborado pela mesma
escritora.
PS: Comprei este livro
e mais alguns por 1 real numa feira de livros. Como o significado de tesouro
pode ser tão subjetivo para cada um...
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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