A crônica do topless
* Por
Gustavo do Carmo
O verão começou com um
manifesto. O “toplessaço”, realizado na Praia de Copacabana no primeiro dia
desta estação, pretendia sensibilizar o público e as autoridades a aceitarem o direito das mulheres de exporem os seios,
pelo menos, nas praias cariocas.
Porém, o movimento foi um fracasso. Poucas mulheres
aderiram ao protesto. A praia ficou lotada mais de jornalistas e homens,
salivando para a verem a nudez da parte mais erótica do corpo feminino (na
minha opinião), do que de adeptas do topless. A organizadora do evento estava
visivelmente constrangida e só tirou a parte de cima do sutiã depois de muita
insistência. Quem brilhou foi uma cineasta amiga da organizadora.
Há mais de trinta anos
se debate o direito ao topless nas praias cariocas. A novela Água Viva, em
1980, reprisada atualmente no canal de TV por assinatura Viva, foi a primeira a
tratar do tema mais publicamente.
Três personagens, interpretadas
por Maria Padilha, Maria Zilda Bethlem e Tônia Carrero, criavam confusões com
moralistas e a polícia para tomarem sol com o dorso nu. A personagem desta
última, que se chamava Stella, chegou até a perder o direito adotar uma menina
por ter agredido um policial que a reprimia.
No ano seguinte, na
vida real, em plena ditadura militar, uma mulher foi presa por insistir em
ficar na praia de topless. Vinte anos depois, outra mulher, bem mais velha,
também passou pela mesma situação. Os defensores do topless e a imprensa
protestaram contra a abordagem de policiais fortemente armados neste último
caso.
No ano passado, a atriz
Christina Flores foi repreendida por tirar a blusa e o sutiã no Arpoador enquanto
tirava fotos para o cartaz de divulgação de uma peça. Ela não foi presa, mas a
repercussão da mídia foi tanta que motivou a organização do “toplessaço”. E o
resultado já contei acima.
As defensoras do
topless argumentam, já condenando os contrários por falso moralismo e hipocrisia, que o brasileiro adora ver
mulheres de peito de fora no carnaval, na televisão e nas revistas, além de nos
comparar com os europeus, que são mais liberais e encaram a nudez com
naturalidade.
É exatamente aí que eu
quero chegar. É claro que nudez no carnaval pode. Mas essas ativistas se
esquecem de que o carnaval foi criado para permitir todas as promiscuidades
antes da Semana Santa. No carnaval pode tudo. Por isso, a farta exibição de
seios desnudos por aqui, que aliás, já está diminuindo por causa da patrulha
moral.
Ah! Mas a nudez no
Brasil não é só vista no carnaval. Vemos nas novelas, nas revistas masculinas e
principalmente nos filmes. A indústria da nudez existe justamente para chamar
atender à tara do brasileiro pelos seios e chamar atenção. O brasileiro é um tarado.
Um libidinoso. Culpa dos portugueses e espanhóis que colonizaram a nós e os
nossos vizinhos latino-americanos, excitando-se com as índias e nativas sem
roupas do nosso continente.
Algumas brasileiras
acuaram-se com tanta libido e olhares maliciosos dos homens e passaram a ter
pudor de mostrarem os seus seios. Mas
outras preferem se exibir e parte destas acha que estão mostrando por
naturalidade. E se acham no direito de acharem que o brasileiro é obrigado a
deixar, de uma hora para outra, de ser libidinoso.
Entre os homens, há
muitos educados que não babam por malícia, mas ficam constrangidos e
incomodados por serem obrigados a olhar um seio exposto, ainda mais se for o da
sua mãe ou da sua irmã. Os homens têm medo do incesto. Acham os seios sagrados.
Deles saem a sua primeira alimentação na vida. E também ficam preocupados com o
olhar malicioso alheio.
Outro argumento usado
na defesa do topless é exatamente o da naturalidade europeia. “Se a europeia
pode a brasileira também pode”. Mas há muita brasileira exibida, que mostra
para chamar a atenção mesmo, para conseguir um homem tarado para levar para
cama. E são exatamente essas que criam a imagem sexual da mulher brasileira. E
tem as que fazem topless para se promoverem, não sexualmente, mas
profissionalmente, como atrizes e cineastas. Enquanto isso, as europeias conseguem
se exibir com naturalidade por lá porque os homens europeus são mais educados e
comportados quando estão em casa. Mas vêm para cá, tarados por nossas mulheres,
só nos usam como roteiro de turismo sexual.
Vale lembrar também que
o Brasil é um dos países com maior índice de analfabetismo do mundo e muitos
não sabem se comportar quando veem um par de seios desnudos.
Os europeus, que são
educados por lá, vêm saciar os seus desejos aqui no país porque lá a nudez é exatamente
vista com mais naturalidade (verdadeira). Eles estão acostumados a ver seios
nus na rua. Ficam até enjoados. São educados porque não podem praticar
atentados ao pudor naturalmente porque a lei deles é rígida também. Aqui, onde a
nudez pública espontânea é proibida, os seios expostos naturalmente existem,
mas são mais raros, pois alguns são exibidos quase na ilegalidade e conivência
de alguns policiais, que, aliás, só reprimem a pedido de alguém. A repressão
provoca uma curiosidade. E a curiosidade gera o desejo sexual. Resumindo: o
brasileiro (homens e mulheres) leva tudo para o lado do sexo.
E ainda não falei na
falta de segurança pública no Brasil. Seios expostos podem atrair estupradores
e tarados (brasileiros). Os mais educados ainda respeitam. Mas e os ignorantes?
As adeptas do topless querem esse risco com tantos casos de arrastão em nossas
praias?
Eu gosto de ver seios
nus. Mas como eu sou uma pessoa educada e que tenta respeitar, confesso que
fico bem envergonhado quando vejo pessoalmente. Já vi rapidamente algumas
conhecidas, mas sempre no flagra constrangido. Mulher se expondo nua
pessoalmente sem pudor para mim eu nunca vi.
Mesmo assim, não sou a favor da liberação do topless. Primeiro porque
acho linda a marca de biquíni neles. E depois porque devemos resolver os nossos
problemas de segurança primeiro. E de educação também.
Sei que isso nunca vai
acontecer, mas já que querem liberar, vamos fazer, então, uma experiência. Quero
ver por quanto tempo as moças e senhoras vão aguentar os assédios sexuais,
agressões, confusões provocadas por cônjuges e parentes, além de olhares
maliciosos. Da minha parte e de outros educados, só peço que não se importem se
ficarmos por um tempo excitados. Um dia a gente se acostuma.
* Jornalista e publicitário de formação e escritor
de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São
Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora
Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu
blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por
leitores
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