Convivência das gerações (II)
* Por
Roberto Corrêa
A vida pode se assemelhar a um torvelinho. E à medida que o tempo passa e o progresso avança, a velocidade dos meios de comunicação se acelera de maneira que, na atualidade, tudo é ainda muito mais rápido, fugazes os momentos para a paz e reflexão.
Noto
que, sem perceber, tornei-me pessoa formal ou estatisticamente da geração
antiga e que, como tudo respira novidade, o culto do momento é predominante, ou
seja, o presente constitui a adorável vida. Tudo que é novo, jovem tem valor;
coisas conhecidas, antigas, já sabidas, tornam-se desinteressantes, e podem ser
trancafiadas.
Da
geração antiga procuro companheiros, talvez – quem sabe? – encontrá-los,
revê-los para simples conversação, até telefônica, mas observo ausência quase
total: boa parte já falecidos, outros distantes, enfermos do corpo ou da mente
(não dispostos ao diálogo) e assim a única solução é mesmo entrar na dança,
como os mais novos.
O
primeiro passo é tratar de rejuvenescer: tentar participar de academias de
ginásticas, cuidar das rugas, cabelos brancos e calvície. Ir ao menos a alguns
shows, competições esportivas (mas assistir jogos da Copa não dá mesmo), bailes
(ao menos comemorativos) e não se esquecer das viagens turísticas (inclusive
internacionais), os badalados “cruzeiros transatlânticos” etc.etc.
A esta
altura é que mais aparecem as dificuldades para a convivência das gerações.
Enquanto a mais nova se encontra exuberante, a todo vapor, a mais antiga
prefere se acomodar. Com isso, vão surgindo as discriminações pela idade (os
mais jovens evitam os mais velhos e estes também não se sentem bem com a
presença daqueles que dominam pela natural potencialidade física).
A convivência dessas duas gerações, a mais nova e a mais antiga, assim, vai se tornando fastidiosa, sobretudo pela ausência de diálogos mais profundos, como educação espiritual, religiosa, indispensáveis, para aperfeiçoamento do homem e da mulher. Se tal acontecesse, disso decorreria melhora de toda a vida social em seus fundamentais aspectos, o que evidentemente seria ótimo.
As
religiões cristãs, ao que parece, têm conseguido ao máximo cristalizar o
respeito pelos mais velhos, dado o quarto mandamento do Decálogo, mas a
idiossincrasia quanto à idade ainda deve perdurar por muitos anos e talvez nem
chegue a
desaparecer.
desaparecer.
Na
constatação que a geração mais nova não se sujeita a ser interagida pela mais
antiga, poder-se-ia até se declarar a inutilidade da história e das ciências
correlatas embasadas no testemunho humano. Então, compreender porque a
civilização moderna está eivada de tantos erros, calamidades e sofrimentos
desnecessários ou insuportáveis fica bem mais fácil.
Roberto
Corrêa é sócio do Instituto dos Advogados de São Paulo, da Academia Campineira
de Letras e Artes, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico, de
Campinas, e de clubes cívicos e culturais, também de Campinas. Formou-se pela
Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como Procurador do
Estado. É autor de alguns livros, entre eles "Caminhos da Paz",
"Direito Poético", "Vencendo Obstáculos", "Subjugar a
Violência”, Breve Catálogo de Cultura e Curiosidades, O Homem Só.
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